O ladrão e o poeta

O ladrão e o poeta

17 de julho de 2015 0 Por Gilberto Araujo

Minha mão roubou das palavras
o voo que elas podiam alcançar.
As palavras eram um par de asas
com penas brancas, batizadas
com as águas do fundo do mar.

Mas as palavras eram peixes
que circulam no silêncio dos rios.
Em seus cardumes pontilhados
vão sarapintando o vazio
de tons preto e azulado.

As palavras eram a terra.
Iam correndo pelos caminhos
deixados pela força do chão
e pela leveza dos moinhos
que levitam os ecos e os sons.

Gritos? As palavras eram gritos
de equívoco e, com toda a origem
que se possa imaginar do infinito,
perdiam-se no vácuo e na vertigem
do tempo que precisa ser escrito.

As palavras eram tudo.
Antes de qualquer aceitação
da certeza e do absurdo,
elas imperavam o mundo
na forma de conotação.

Então vi que as palavras roubadas
eram, cada uma, senhoras de mim.
Faziam de minhas mãos, escravas,
impondo-as a gravar, sem fim,
palavra atrás de palavra.