Alvorada II, por Osman Lins
21 de junho de 2011
`O´ e Abel: Encontros, Percursos e Revelações
“As gemas de vidro nas sandálias de `O´ adquirem um tom negro e a sua pele _ como imponderável e um tanto irreal _ absorve a luz vazante. Um vento rápido cruza as ruas sossegadas, revolve os seus cabelos, o vestido esvoaça, flores do tecido, ela ri e dá-me o braço (este peso, esta indefinível leveza!), o rosto junto ao meu, finas rugas tecendo-as nas pálpebras. Sombrios os armários, as gavetas, as malas, os porões, os fundos dos tonéis, os oratórios. Silenciam as cigarras de novembro, enganadas pela noite que se infiltra entre os ramos das árvores; mariposas começam a agitar-se nos seus esconderijos diurnos e aventuram-se indecisas no meio-dia turvo. Cassações e suspensões de direitos políticos: aguarda-se nova lista ainda hoje. A faixa do eclipse total, entretanto, fica a alguns poucos quilômetros de Rio Grande. Conduzidos por notícias imprecisas, fazemos extensas e dispendiosas viagens pra observar, na sua plenitude, um fenômeno que se prevê incompleto na cidade. Este engano, porém, lido de outro modo, será ainda engano?”