Cárceres da Grécia, Por Osman Lins
22 de junho de 2011
“No dia marcado, Maria de França, a quem não atinge o suicídio do noivo, está na Rua da Praia, sem companhia. Ninguém alude à recomendação de que o advogado e a mãe fossem com ela. O médico estudou o processo e está disposto a conceder despacho positivo, desde que receba, por escrito,“Comunicação de Serviço” emitida por um funcionário da Riachuelo. Vai Maria de França à Rua do Riachuelo. O funcionário, fazendo Maria de França portadora, escreve ao médico: resume o caso (quando o destinatário tem consigo toda a papelada) e emite o seu ponto de vista (quando esta função compete justamente ao médico). O médico, irritado, trata a portadora com brutalidade e rascunha novas instruções ao mesmo petulante escriturário, reiterando o pedido de “Comunicação de Serviço”.
Maria de França, a quem é confiada essa mensagem, em vez de voltar à Rua do Riachuelo e entregá-la (para novamente voltar e novamente voltar e novamente voltar ?), cruza o Recife com o papel na bolsa, ao acaso, medindo sem indulgência o espaço existente, enfranqueável, entre ela e os que passam. À sua frente vai um homem, com um volume embrulhado em folhas de jornal. Ela segue-o à distância. O desconhecido entra numa rua de pouco trânsito, desfaz o embrulho, retira uma pedra de calçamento, estende a mão direita sobre o meio-fio e esmaga-a, em três golpes. Vem correndo pela rua, mudo de dor, a mão sangrando. Imóveis, face a face, olham-se. Maria de França cruza com ele e segue em direção à pedra jogada no solo.”