Barba, o homem que catava papelão

22 de junho de 2011 5 Por CONPOEMA

Fato verídico

O galo entoava seu canto rude.

Ele, o Barba, despertou

meio tonto, meio lezo; das cachaças do dia anterior. Tinha que se levantar antes dos coletores de lixo.

Pensou em trocar de roupa,

porém, decidiu que seria possível usá-la por mais uma semana.

Saiu

e iniciou seu martírio,

sua luta diária pela sobrevivência,

iniciou sua busca por papelão,

garrafas plásticas

e alumínio.

Metia-se no meio de qualquer imundice

para ganhar alguns tostões.

Ele e sua inseparável carroça

formavam um par perfeito.


Dona Mônica lhe dera uma antena parabólica,

Barba pensou que aquele seriao dia”

para faturar umas boas pratas.

Antes de ir ao ferro-velho,

passou no boteco para beber uns copos

e prosear com os companheiros.

Falava alto, sorria muito

e a cada sílaba proferida,

saltava-lhe da boca, gotas fétidas de saliva.

Estava ridiculamente alegre,

pois com a venda da sucata,

poderia comprar lingüiça.

Ah! Há quanto tempo não comia lingüiça frita…


Barba, já embriagado,

saiu dali pisando mole,

enxergando turvo

e ouvindo pouco.

Desembestado guiava sua carroça até o ferro-velho

e, antes que chegasse

um dos companheiros que estava no boteco,

o surpreendera com uma paulada…

Barba caiu,

e da cabeça vertia-lhe sangue e miolos…

Estrebuchava, se contorcia

tal qual uma lagarta que tem o ventre perfurado por um graveto…

O homem, não satisfeito,

dera-lhe outra

e mais outra paulada,

depois examinou o cadáver com indiferença,

tomou a carroça e rumou ao ferro-velho.

Conseguiu o suficiente

para comprar algumas gramas de cocaína.

O corpo de Barba, só foi descoberto

sete dias após a morte,

devido ao fedor que exalava.

Seu assassino foi Marquinhos,

de dezessete anos, que morreu de overdose

na noite daquele mesmo dia.