Silêncio

24 de abril de 2012 0 Por Gilberto Araujo

“Para que ninguém possa ver no fundo de mim e da minha última vontade – para isso inventei o longo, luminoso silêncio”.

“Não falamos um com o outro, porque sabemos coisas demais; silenciamos um com o outro, num mútuo sorriso nos lançamos o nosso saber”.

“Se este decifrar é lento, posso gastar uma vida toda nisso e então é vantajoso para ti manteres-te em silêncio, porque assim não te conheço e posso tudo imaginar”.

“Hesitamos em fazer a pergunta porque não queremos ouvir a resposta. Prosseguimos em silêncio”.

“Então calar: usar
Um silêncio artifício”.

“Quanto mais os vigiava e ficava à espera, mais me convencia de que, mesmo à falta de qualquer outra prova, o silêncio sistemático de ambos constituía prova suficiente”.

“Em tempos de silêncio generalizado, conformar-se com a mudez dos outros é certamente culpável”.

“Debaixo do silêncio
eu não sei o que traziam”.

in Sob Neblina (Em Segredo), de Marilá Dardot


[A poética da artista parte de uma pesquisa com a palavra. Desde 2004 ela trabalha a série “Sob Neblina”, um arquivo de frases que têm como fio condutor a palavra “silêncio”, selecionadas em livros que lê. Marilá Dardot então classificou dez tipos de silêncio, “na tentativa de mostrar os múltiplos sentidos desta palavra”.]

o silencio, em certo sentido, também é palavra… ou antes, é a anti-palavra do corpo, dos olhos que não cabe em nenhum código simbólico.