Depoimento | Fabia Pierangeli

30 de janeiro de 2012 0 Por Gilberto Araujo
Fabia Pierangeli

 

Cerimônia de Batismo | 24 e 25 de janeiro de 2012Chuva. Terra molhada. Dia de festa.
Fomos convidados a participar.
Casa de Reza.
Aglomeração de gente. Calor. Fogueira. Muita fumaça. Olhos ardendo. Suor escorrendo. Cheiro de fumaça impregnando.
Gente, muita gente.
Povo Guarani.
Muitos “jurua kueri”.
Tudo no seu lugar.Colchão pras crianças. Fogo que alimenta o “petinguá”. Água que repõe o suor perdido. Os homens cantam e dançam, as mulheres acompanham. As crianças observam atentamente, ajudam no ritual, acompanham também. TODOS fumam. A fumaça defuma tudo e todos, purifica pessoas e objetos.
O “mbaraka miri” marca os passos, o violão e a rabeca propõem a melodia para as vozes que aos poucos vão explodindo e tomando conta da “Opy”.

Eles cantam, eles tocam, eles dançam.
Os homens, de um lado pro outro.
As mulheres, pra frente e pra trás.
As vozes parecem amplificadas e aquelas figuras pequenas e tímidas, viram gigantes entoando suas canções.

Água, terra, fogo e ar. Os quatro elementos ali, exaltados. A água purifica e batiza, o fogo que alimenta os cachimbos, que faz as comidas ficarem prontas. A terra conectada pelos pés, o ar que brinca com a fumaça o tempo todo.
Algo de mágico acontece. Há quanto tempo será que isso acontece, se repete?
Fomos batizados. O “xeramoi” José Fernandes nos presenteou com nomes Guarani. Agora também em chamo RETÉ, que significa Vida.

O “mbaraka miri” soa forte e os pés pedem pra marcar seu ritmo.
O corpo se movimenta e pede pra cabeça desligar, mas ela não desliga. O corpo quer ir, a cabeça não deixa.

Observei mais do que eu queria. Eu queria me entregar mais para aquela experiência, mas tive receio e nem sei bem do que. Queria ter dançado mais, queria ter cantado, pitado o “petingua”, tomado o chimarrão.

Dancei um pouco, comi tipá, bebi café, ganhei um nome, conheci Djerá – liderança da aldeia Tenondé Porã, uma Guarani com sentimentos feministas. Dei mais alguns passos dentro desse complexo universo, tão diferente e destoante do meu. Me senti feliz por ter tido a oportunidade de observar a alegria desse povo que veio pra Terra pra cantar, dançar e ser feliz.