Dois candangos moratenses em Brasília
24 de julho de 2012Eis que chegamos nas terras do Juscelino para participar do 2 Encontro Ibero-Americano de Cultura de Rede, na perspectiva de trazermos diferentes visões e experiencias sobre o tema para a incipiente e recém-criada Rede Viva Periferia Viva e também para a nossa atuação e de toda a Confraria Poética Marginal na região. Encabeçado pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, Cultura Senda, Cultura e Integración, Festival Cena Contemporânea, Fora do Eixo, Rede Sudamericana de Danza e apoiado pela Organização dos Estados Ibero-americanos, Secretaria de Cultura do Distrito Federal e Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura do Governo Federal, este encontro “(…) se propõe a consolidar um espaço de articulação, difusão, reflexão e formação entre os que estão interessados em promover processos de rede e colaboração cultural na América Latina (…)”. Ou seja, nossa cara.
Tio Cláudio, nosso anfitrião, o cara que conhece Brasília como a palma da mão |
Muito animados e ansiosos pelo início dos trabalhos já descemos do curto voo retirando as blusas e cheios de ideias. E a primeira delas foi a de que pensar que aqui estaria tão frio quanto em São Paulo foi um erro. O primeiro de outros tantos, para falar a verdade. De pronto, no dia seguinte, demos uma passadinha pelo Museu Nacional de Brasília (local onde acontecerá o encontro) para reconhecimento do terreno e aproveitamos para conferir a belíssima exposição de fotografias “200×200” de Daniel Mordzinski, acompanhados pelo nosso maravilhoso anfitrião, fotografo, guia e motorista Tio Cláudio, cuja família tem nos recebido tão bem aqui. Dali, como ninguém é de ferro, iniciamos nosso tour pela cidade, com direito aos principais pontos turísticos da cidade, lembrancinhas, badulaques, fotos de turista, brincar de votação na Câmara (aliás como muito deputado), se empanturrar de bobagens (tipo churros) e ficar tocando nas coisas para ver se é de verdade (ainda que isso seja evidente).
Nessa pegada conferimos a bacana exposição do concurso de charges sobre a AIDS (ou SIDA, se preferir), prevenção e direitos humanos do lado de fora do museu, demos uma passadinha pela impressionante Catedral de Brasília (onde vimos a única réplica da Pietá do Michelangelo), dentre outras maravilhosas esculturas e terminamos no Congresso Nacional, fazendo um tour pela casa e conferindo por onde diariamente passam os nossos “monumentais representantes”. Aliás, aqui em Brasília, tudo é grande, espaçoso e monumental. Das casas aos carros e vias, das construções às cifras gastas, tudo é grande pra cacete, quase demais (e muitas vezes é mesmo), especialmente no… Eixo Monumental (há, há, entenderam?). À noite fomos conferir a Mostra Internacional de Teatro Cena Contemporânea e eis outro erro nosso: o de achar que conseguiríamos assistir a vários espetáculos da mostra. Ledo engano…
Nosso primeiro erro foi achar que a mostra era toda na faixa. Há! Há! Há! Vinte paus cada espetáculo!! Pra quem vem de Morato isso é meio salgado, né não? Mas vamos combinar que Brasília é a maior cidade de boy do Brasil e vinte paus aqui é uma pechincha. É sério, se você não tem a manha de pagar cincão num cafezinho, nove num bolinho mixuruca ou torrar Duzentos contos numa noitada de pizza e chope, então é melhor nem vir passear em Brasília. Sendo assim, galera, chegamos no CCBB daqui e demos com o aviso de que todos os ingressos estavam esgotados. Não, não era só pro espetáculo que a gente foi ver, estavam esgotados para todos os dias! Tem ideia? No fundo, isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Ruim porque nossas chances de curtir a mostra caíram para bem perto de zero, mas bom porque é legal ver como é importante o teatro numa grande cidade como nossa capital federal. É legal ver como o teatro é importante e procurado aqui, contrariando o que muita gente fala sobre não ter mais mercado para teatro no Brasil. Humpf!
“Every year, every day…I’m walking” Imagem: divulgação |
A prova disso foi a simpática senhora que encontramos no CCBB e que nos deu uma dica matadora. Ela nos contou que adora teatro e que ia em tudo o que podia, inclusive que pretendia ir em todas as peças da mostra. Nos falou dos espetáculos que assistiu, do que gostou em cada um e nos deu uma dica que salvou a noite: a de que deveríamos esperar na fila, pois estavam colocando entradas extras por conta da grande procura. Seguimos seu conselho e assim pudemos ver o maravilhoso “Every year, every day…I’m walking” do Magnet Theatre da Africa do Sul. Um espetáculo maravilhoso, repleto de delicadeza e beleza, com muitos elementos da cultura africana, tratando da realidade vivida no continente, construído de maneira simples, com poucos elementos cênicos e profundamente alicerçado no trabalho das atrizes que simplesmente deram uma aula no palco. Além disso, pelo panfleto distribuído na entrada, pudemos saber um pouco do trabalho fantástico que eles desenvolvem na Africa do Sul e nos encantar mais ainda por esse grupo que até então era desconhecido para nós. E é engraçado e misterioso pensar em como é próximo o trabalho e principalmente a linguagem do Magnet Theatre de grupos brasileiros como o Pombas Urbanas, o Clariô ou o nosso querido Girandolá; ainda que fisicamente eles estejam separados por milhares de quilômetros. Magia? Sei lá, pode ser…
Com isso tudo, só conseguimos dar uma rápida passadinha na exposição sobre a Índia que estava no CCBB também e voltamos inspirados, encantados, maravilhados, com a cabeça fervilhando de ideias e uma pergunta que não saiu até agora da nossa cabeça: o que aquele saco em cima da cabeça azul de mulher quer dizer? É, esse dias prometem… Confere aí as imagens.