E o que seria de ti se não fosse o Juquery?
14 de novembro de 2016Com a chuva persistente nos últimos dias, nos encontrávamos apreensivos com mais essa apresentação da temporada do espetáculo Juquery: memórias de quase vidas, que aconteceu ontem, dia 13, mas para nossa grata surpresa o público não se intimidou, e estavam lá 41 pessoas para conferir a obra. Muitos chegaram bem cedo, para garantir a entrada, que é limitada, e também para conferir a exposição, que contém fotos e frases do processo do espetáculo, e que está ocupando as antigas celas da rotunda.
A peça, as fotos e frases, convidam em especial, os moradores da região, a refletirem sobre “O que seria daqui se não fosse o juquery?”, frase que dá título a essa exposição. Fazendo-nos pensar sobre o papel que essa cidade e região tiveram para o Estado de São Paulo, recebendo boa parte da população que não “cabia” na capital, seja com a população psiquiátrica, que deu origem a cidade, mas posteriormente com a população carcerária, migrantes nordestinos, e moradores em situação de rua, formando uma região com a cara da exclusão.
E o que seria de nós se não fosse o Juquery? Para nos entendermos, é preciso tocar em muitas dores.
Esse processo tem sido extremamente importante ao apresentarmos, compartilhamos o que colhemos na pesquisa, através dos prontuários de pacientes, da convivência com internos e funcionários, nas leituras dos livros, e todo o material que tivemos acesso. Mas esta temporada possibilitou que nós do Teatro Girandolá, tivéssemos acesso a coisas que antes, mesmo com muita pesquisa, só tínhamos visto em livros. Nosso processo de pequisa durou 02 anos, estreamos em 2014, e só agora em 2016 visitamos este espaço onde apresentamos, parte fundamental para nosso trabalho. E além de nós, a população também pode conhecer os prédios que até então, sempre estiveram trancados.
A cada apresentação este processo é também enriquecido com novas informações, com o que as pessoas que assistem também tem a contribuir.
Nas apresentações desta temporada tivemos a presença de um funcionário do Complexo Hospitalar que ainda revelou que além de espaço que estamos ocupando ser utilizado pelos pacientes em estado mais agudo, era onde eram feitas as sessões de hidroterapia. Saímos dos livros teóricos, e caímos ali, onde os fatos aconteceram. As suas explicações sobre como consistia a “terapia”, deu ainda maior significado e peso a esta temporada: Na sala, banheiras de mármore, umas com água super quente, outras com água super gelada, assim, os paciente amarrados, eram introduzidos ora na água quente, ora na água gelada. Impossível não sentir enorme tristeza com a cena recriada em nossas mentes.
E através de bate-papo depois das apresentações muitas outras importante falas foram feitas pelo público, discussões sobre o que nossa sociedade impõe como sanidade ainda nos dias de hoje, até o compartilhamento de experiências, seja com familiares, ou mesmo de pessoas que já enfrentaram transtornos mentais, de ex-funcionários, filhos de funcionários, etc. Tornando este um importante espaço para pensarmos numa sociedade mais inclusiva, mais acolhedora e mais sadia.
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É imensamente gratificante ver a população da região dizendo se sentir bem representada com a obra, pois esse sempre foi um de nossos desejos, contribuir com o resgate da memória, com a valorização e com o fortalecimento do sentimento de pertencimento. Ainda mais por vermos, depois de outras duas outras temporadas realizadas, tanta gente que volta para assistir e sempre traz mais alguém, por também reconhecer a importância deste tema para discussão.
Nesta nova temporada também temos tido a presença de muita gente da capital paulista, estudantes de psicologia e outros trabalhadores da saúde, além de pessoas que vieram por se interessar pela história do hospital, que foi referência no tratamento psiquiátrico na América Latina, trazendo debates que vão para além da região, pois além da Loucura ser um tema universal, o complexo hospitalar do Juquery e sua história, são reflexos da história do nosso Brasil.
Se você ainda não viu a apresentação, se programe, a temporada vai até o dia 11 de dezembro, sempre aos domingos, às 17h, com entrada gratuita.
O espetáculo é indicado para maiores de 16 anos, a entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos no próprio local da apresentação, com 1 hora de antecedência. São apenas 40 lugares, garanta o seu.
O Complexo Hospitalar do Juqueri fica na Av. dos Coqueiros, 300, Centro, Franco da Rocha/SP e as apresentações acontecerão no prédio da antiga Rotunda.
Essa temporada é uma realização da Associação Cultural CONPOEMA, através de seu núcleo artístico Teatro Girandolá e integra a programação da Franco Mostra Teatro 2016, promovida pela Secretaria Adjunta de Cultura de Franco da Rocha.
Mais informações: 4488-8524