Por uma terra de afetos

Por uma terra de afetos

5 de setembro de 2016 0 Por Meire Ramos

_MG_1988A Cia do Escândalo, atua há 21 anos, e está sediada na cidade de Mogi das Cruzes, movimentando um espaço cultural chamado Galpão Arthur Netto. A nossa aproximação com o trabalho da Cia. aconteceu  em meados de 2013, no ano seguinte, 2014, o grupo se apresentou na nossa região, com o Ensaio Sobre Limpeza, que discutia a higienização social, nós também fomos nos apresentar lá no espaço deles no mesmo ano, com o Ara Pyau, e de lá pra cá muita luta em nossas cidades, muita luta dentro do Fórum do Litoral Interior e Grande São Paulo, que todos fazemos parte, e os laços foram sendo fortalecidos. No último fim de semana tivemos a oportunidade de recebê-los mais uma vez na programação do CONPOEMA Recebe…com uma demonstração de trabalho e apresentação de um de seus espetáculos.
A proposta da demonstração foi pensada um tanto em cima da hora, e para cobrir um problema que tivemos por outro grupo ter cancelado uma apresentação, mas se transformou numa maravilhosa troca, em que pudemos conhecer ainda mais a sala de ensaio da Cia., e mergulhar na pesquisa cênica, através da demonstração “Teatro, corpo e afeto”, realizada na sexta-feira, dia 02, no Centro Cultural de Franco da Rocha.
Na plateia muitos atores e estudantes de teatro, que puderam conhecer a pratica do grupo, dos aquecimentos e jogos cênicos às bases teóricas que influenciam o trabalho, e como tudo isso vai pra cena. A apresentação foi muito interessante por ressignificar exercícios, mas principalmente por revelar a intimidade e relação dos integrantes da Cia. Além dos jogos, algumas cenas e músicas do espetáculo que seria apresentado no dia seguinte em Morato também foram compartilhadas, e que coisa maravilhosa foi poder entrar em contato com o trabalho de grupo, que era tratado com muito respeito pelos artistas e os colocavam em grande comunhão.

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A Cia. do Escândalo levou no dia seguinte pra Casa de Cultura de Morato o seu décimo espetáculo, construído a partir da pesquisa do livro “Abril despedaçado”, de Ismail Kadaré. Aquele espaço é um grande desafio para nós e para cada grupo que se dispõe a apresentar por lá, e transformá-lo de uma sala de dança em um espaço adequado para apresentações teatrais dispendem bastante trabalho, mas ali todos estavam empenhados para que tivéssemos uma ótima noite. O dia apesar de longo foi bem leve, o grupo estava disposto em criar soluções para o espaço, e tivemos mais importantes trocas na produção deste evento, na montagem do cenário e iluminação, observando como o grupo se organiza e como nos misturamos e nos ajudamos com afeto, compartilhamos almoço e cafés com bons papos e o espaço foi ficando próximo as necessidades do espetáculo, e de noite tudo estava pronto.
E pra nossa surpresa e alegria, mesmo com inúmeros eventos acontecendo ao mesmo tempo na cidade, como lançamento de livro, que também acontecia naquele momento na casa de cultura, e show “Toca Raul”, que acontecia no mesmo horário em frente a estação de Morato, tivemos um grande público de pessoas, que lotou a plateia. Foi um dia realmente emocionante, perceber que tudo estava dando certo, que nosso trabalho estava dando um bom resultado, e que diversas pessoas também colaboraram pra isso, como o diretor de cultura Adilson, que mobilizou os alunos para assistirem. Vimos a evolução de apresentarmos por dois meses seguidos lá, e dessa parceria, e isso é formação de público!
A apresentação do espetáculo “Inimigo” trouxe para cena o povo Albanês, que possui uma tradição de vinganças e mortes, baseada no Kanum, um código social, uma espécie de lei mas que não é escrita, mas passada de pai pra filho. O cenário trazia uma porção de camisas sujas de sangue estendidas no varal, nos mostrando a monumental produção da guerra, e a partir das histórias contadas, nós podíamos nos questionar a respeito do lugar que a vingança também ocupa em nossas vidas pessoais e na nossa sociedade. Ao final, o grupo abriu um bate-papo com a plateia e compartilhou também da comida e bebida tradicional da Albânia: Pão, café, caldo de feijão e conhaque.

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O discurso que está por trás da obra, de se buscar e construir uma terra de afetos, está na prática do grupo, o que nos faz admirar demais o trabalho deste pessoal aguerrido, que sempre trata de temas muito importantes em suas obras, que está mantendo um espaço independente, e que emana uma energia muito boa, capaz de se instaurar.
Só posso agradecer por nos darem as mãos!

O CONPOEMA Recebe… é uma realização da Associação CONPOEMA, no ano de 2016 está contemplado pelo ProAC Tritório das Artes, pelo projeto Território CONPOEMA, e nessa edição conta com o apoio da Secretaria Adjunta de Cultura de Franco da Rocha e da Secretaria de Cultura de Francisco Morato.

As atrações acontecem mensalmente com entrada sempre gratuita, acompanhe as próximas atividades da agenda CONPOEMA, clicando aqui.

Outras informações: 4488-8524