Poesias

18 de setembro de 2011 0 Por Gilberto Araujo
O vento

O único da casa que enxerga o vento é o cachorro. Detém-se à porta da cozinha, rosnando para o pátio ventado, ‘cheio de latas inquietas e papéis decididamente malucos.
E nos seus olhos fixos e rancorosos vê-se o desvario do vento, a incurabilidade do vento, os seus cabelos em corrupio, os seus braços que parecem mil, os seus trapos flutuantes de espantalho, toda aquela agitação sem causa que é ainda menos instável, no entretanto, que a terrível desordem da sua cabeça: pois o vento nunca pode assen­tar as idéias …