Processo de criação

Conto processo criacao

No quarto ” Faze no teu cantinho o teu poeminho. Esse absurdo de sempre existirem poetas apesar de tudo – deve significar alguma coisa… Deve ser o fio da vida que vai unido, pedaço a pedaço, essa colcha de retalhos que é a história do mundo. ”
(Foto: Liane Neves)

 

Mario Quintana, um dos maiores poetas que o Brasil já viu nascer, conhecido pela genial simplicidade de seus textos ou pela “terrível simplicidade de minhas palavras”, como ele mesmo dizia, adentrou os trabalhos do Teatro Girandolá através do livro “Lili Inventa o Mundo”, em um de nossos encontros, bem no início do processo, apenas como sugestão de um dos integrantes que já nutria uma paixão antiga pela obra.

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Capa do livro, edição de 2005 da Ed. Global

A sugestão transformou-se em matéria-prima para nosso trabalho, e a medida que nos alimentávamos da poesia contida no livro, construíamos os primeiros pilares para o que mais tarde viria a ser o nosso “Conto de todas as cores”.
Durante essa construção constatamos questões importantes relacionadas à infância e ao encantamento diante da vida, tais questões serviram como mote para uma pesquisa profunda que aliou estudos teóricos e práticos, num trabalho de autoconhecimento, resgate de acontecimentos de nossa infância, recolhimento de depoimentos de adultos e crianças, oficinas de jogos com crianças, estudo de textos teatrais para crianças, leitura de textos referentes ao estudo do teatro para infância e um mergulho em toda obra de Quintana que nos guiou e nos fez mais sensíveis à sua poesia e simplicidade tão profundas.
Conheça mais sobre Mario Quinatana por ele mesmo:
“Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.”
(Texto escrito pelo poeta para a revista IstoÉ de 14/11/1984)

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