Somos todos Guarani Kaiowá

2 de novembro de 2012 0 Por Meire Ramos

Diante desta ameaça à vida e aos direitos humanos, a sociedade brasileira está se mobilizando e se organizando em defesa deste povo que ao longo da história tem sido vítima de violência , maus tratos, ausência de políticas públicas e descaso do governo federal.


No final do século XV, portugueses e espanhóis aportaram pela primeira vez no “novo 
mundo”, em terras que hoje respondem pelo nome de América Latina. Do encontro entre os “civilizados” europeus e os povos nativos que por aqui viviam, nasceu uma nova história mundial que mudou para sempre o modo de viver, ser e se relacionar, tanto na América como na Europa. Desse encontro, quase 6 séculos se passaram, porém, o quadro de submissão, miséria e espoliação; gestado e parido naquele tempo sobre essas nossas terras, se repete ano a ano, num cenário que teima em se reproduzir.
A História do Brasil é marcada pela colonização latino americana e a população brasileira é vítima de um quadro crônico de espoliação. Muito sangue foi e continua sendo derramado em nossas terras, em nome de uma riqueza, que fica sempre concentrada nas mãos de uma pequena minoria. E quando se trata da situação dos “povos indígenas brasileiros”, o quadro é ainda mais grave:
(…) As disposições legais que, desde 1537, protegem os índios do Brasil voltaram-se contra eles. De acordo com os textos de todas as constituições brasileiras, são ‘os primitivos e naturais senhores’ das terras que ocupam. Ocorre que, quanto mais ricas são essas terras virgens, mais grave se torna a ameaça que pende sobre suas vidas; a generosidade da natureza os condena à espoliação e ao crime.” (Eduardo Galeano – As veias abertas da América Latina)
Muitos povos nativos brasileiros foram exterminados no decorrer da história e os que conseguiram se salvar vivem hoje de forma extremamente ameaçada em nosso país. Os povos indígenas brasileiros são os guardiões da ancestralidade do Brasil mas estão esquecidos, vivendo a margem de uma sociedade que sequer entende sua existência, uma sociedade que simplesmente não os vê, embora sua existência seja bastante palpável. Segundo análise feita pelo IBGE com base nos dados colhidos no censo de 2010, existem no Brasil cerca de 305 povos indígenas que falam mais de 270 línguas diferentes.
O povo Guarani é uma das maiores populações indígenas do nosso país, representa cerca de 9% dessas populações, vive principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e tem como característica mais marcante a resistência através da preservação de seu modo de viver fortemente alicerçado na vida em comunidade, na espiritualidade e religiosidade. Porém, mesmo sendo a maior população de um povo indígena no Brasil é também uma das que tem seus direitos menos reconhecidos, principalmente o direito à terra, ainda faltam serem reconhecidas cerca de 95% das terras tradicionais Guarani no Brasil.
A falta de terra gera uma série de situações que aumentam o grau de vulnerabilidade social a que estão expostos os índios Guarani. Sem terra pra cultivar e ter de onde tirar seu sustento, suas crianças morrem de desnutrição e eles passam a depender de programas sociais e doação de cestas básicas para não morrerem de fome. A maioria da população Guarani brasileira vive em barracos improvisados nas beiras da estrada ou em pequenas áreas demarcadas, insuficientes pra abrigarem decentemente o número de pessoas que nelas vivem e essa situação faz explodir uma série de episódios de todo tipo de violência.
Uma das situações mais graves nos dias de hoje está no estado do Mato Grosso do Sul, onde são altas as taxas de assassinato e de suicídio entre os Guarani. Os assassinatos geralmente referem-se a mortes de lideranças indígenas encomendadas por latifundiários ou em conflitos entre os próprios Guarani e são sempre decorrência da luta por posse de terra. Já os suicídios estão fortemente ligados a falta de perspectiva de vida dos mais jovens.
No dia 29 de setembro de 2012 a Justiça Federal de Naviraí – MS decretou a desocupação das terras ocupadas pela comunidade Guarani-Kaiowá da Tekoha Pyelito Kue/Mbarakay, mas a comunidade resolveu resistir e lançou uma carta, que pode ser conferida na íntegra aqui, expondo sua decisão de resistir até a morte. Essa carta ganhou as redes sociais e causou uma série de movimentações de brasileiros de todos os cantos que resolveram se solidarizar a causa indígena. Diversas ações estão acontecendo, em várias partes do país, uma campanha foi lançada pelo Comitê Internacional de Solidariedade ao Povo Guarani e Kaiowá (mais informações aqui, pra arrecadar alimentos e dinheiro que serão doados a diversas comunidades Guarani-Kaiowá que estão acampadas, lutando pelo direito de permanecerem em suas terras tradicionais. No próximo dia 8/11 o grupo Mawaca fará um show dentro dessa campanha e revertará toda a bilheteria para a causa. No dia 9/11 haverá um ato, com concentração em frente ao MASP às 17h e caminhada às 20h que terminará no Vale do Anhagabaú com diversas apresentações artísticas, exigindo uma posição do Governo Federal em relação a demarcação das terras indígenas.
Está rolando também uma petição online, que já conta com mais de 270 mil assinaturas exigindo que o governo se posicione frente ao genocídio que está acontecendo nas terras do Mato Grosso do Sul – Assine a petição aqui.
Com a criação do nosso espetáculo “Ara Pyau – liturgia para o povo invisível”, tivemos a oportunidade de conhecer e conviver com a comunidade Guarani Mbya das aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu . Essa convivência nos possibilitou enxergar a história da formação do povo brasileiro com outros olhos e nos colocou diante de nossa própria ancestralidade.
Os indígenas brasileiros são os povos originários do nosso país, eles são guardiões da história do nosso povo e estão sendo exterminados. Somos todos indígenas! Somos todos 

Guarani-Kaiowá! Vamos juntos gritar pelo fim do massacre em MS!
Acompanhe as principais notícias da luta indígena por aqui.

Assita abaixo o vídeo da liderança de Puelito Kue, que conta a real situação que seu povo está enfrentando. Produzido com a orientação do Aty Guasu e apoio audiovisual da ASCURI.