Prelúdio | Pessoa, Milton, Caetano e Rosa

6 de dezembro de 2012 0 Por Gilberto Araujo

Chegamos ao fim de mais um ciclo, e agora é ara pyau, tempo de renovação, tempo de fazer a travessia para mais uma jornada por este ano que nos espera com todas as suas margens e sonhos, para cantarmos uma nova história.
 A todos que nos acompanharam, que estiveram presentes em nossas atividades, que colaboram de alguma forma, a nossa mais sincera gratidão, como nos ensinou recentemente o pessoal do Circo Teatro Capixaba.
E o convite se renova: que venham todos novamente dançar essa ciranda com a gente de mãos dadas por essas bandas de cá.

 Fernando Pessoa, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Guimarães Rosa por inspiração, nos brindam com sua poesia e nos convidam a dar esse salto.

Van Gogh

 Tempo de Travessia


 “Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos”
 Fernando Pessoa

 A Terceira Margem do Rio

Oco de pau que diz: eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz, risca certeira
Meio a meio o rio ri, silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz: risca terceira
Água da palavra, água calada, pura
Água da palavra, água de rosa dura
Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai,
Margem da palavra entre as escuras duas
Margens da palavra, clareira, luz madura
Rosa da palavra, puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida
O rio riu, ri por sob a risca da canoa
O rio riu, ri o que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi a voz das águas
Asa da palavra, asa parada agora
Casa da palavra, onde o silêncio mora
Brasa da palavra, a hora clara, nosso pai
Hora da palavra, quando não se diz nada
Fora da palavra, quando mais dentro aflora
Tora da palavra, rio, pau enorme, nosso pai