Durante o abraço
17 de julho de 2015Durante o abraço,
almas se mastigam,
sôfregas, medonhas;
pedaços se encaixam
chave-fechadura
numa porta que abre,
numa janela que fecha.
Durante o abraço,
há um intervalo,
— translúcido tempo —
entre o solo e o ar,
entre o silêncio e a música,
entre corpo e corpo
em nó, em brasa,
em dissolução.
Durante o abraço,
intimamente se eleva
a mestiçagem de perfumes;
dilatam-se átomos;
recompõe em mistério
a liberdade em prisão;
pássaros em cárcere
por própria vontade
não batem mais asas.
Durante o abraço,
fere carne o calor,
queima, molha;
raiz eclode dos ossos
sobre o câncer da proteção,
sobre o tumor da proteção,
invade as veias,
rompe, explode.
No final, tudo se abre
em ponte sem margem.
A alma: na travessia.