O Fiel e a Pedra, por Osman Lins
17 de junho de 2011
“Parecia castigada , supliciada pela evocação do diálogo, aquele surdo, incrível diálogo, ao fim do qual _ havendo concordado, por falta de meios, em nada mais fazer pela criança _ ambos haviam como que ruído sobre o leito, exaustos cada um para seu lado e receando tocar-se, os braços em cruz, os olhos nas telhas vãs.
_ Deixá-lo morrer! _ continuava o homem. Seremos dois monstros? Como é que você pode concordar?
Ela se levantou, ficou de costas:
_ Não fale mais , Bernardo. Eu sabia!
_ Que é que você sabia?
_ Você tinha de terminar acusando-me. Não me acuse _ suplicou.
Ele escondeu o rosto nas mãos. Era a história de sempre _ as traições da alma. E chegaria assim ao fim de sua vida, jamais se dominando por completo, sempre em luta com as partes odiosas de si mesmo, aquelas que fugiam, que acusavam, que condescendiam. A quem sobre a terra, a quem no mundo quisera proteger como a Teresa? A quem mais fortemente amara? E quem, mais do que ela, merecia a sua proteção, o seu querer, seu zelo?”
Fonte: Osman.Lins.nom.br