Nove, Novena, por Osman Lins

18 de junho de 2011 0 Por Gilberto Araujo
Vi nesse moço, quando me pediu a mão de Joana, o traço da morte. O aviso. O sinal. Tentei demovê-lo. Éramos gente sem posse, de poucas letras. “Não tem importância. Desde que vi sua filha, na procissão…Desculpe, mas desde aquela hora imagino-a como esposa. Quero tanto protegê-la!” “O senhor se engana, ela é que vai protegê-lo.” “Eu trabalho. Sou ferroviário.Terei promoções.” “Como é sua graça?” “Jerônimo José.” “Senhor Jerônimo, desculpe que lhe diga: tenho visto poucos homens tão franzinos. Não digo no corpo. È por dentro. Feito para trabalhar de ourives. Ou de imaginário, ficar sentado em si, fazendo nossas-senhoras, meninos jesuses. Gosta de Leituras?” “Leio muito.” Não tinha pai, nem mãe. Desatou em pranto, me apertando os dedos, como se eu houvesse descoberto as franquezas que ele mais tentasse esconder. Sempre fui mulher dura. Tenho duas torres na cabeça, sou a esposa, a igreja, a terrena, a que se polui, a que pare os filhos, a que transforma em leite o próprio sangue, a frágil. Não é assim que diz a liturgia? Pois se sou fraca, tenho de ser de pedra. Sou de pedra; mas também chorei. “Joana casará com você, meu filho. (Foi assim que o chamei.) Não tenha acanhamento de suas qualidades de menino. Sua fraqueza, a ignorância das coisas, as iluminações que os outros, quase todos acham de louco. Isso também são valores.”