Alvorada, por Osman Lins
19 de junho de 2011“A Roos e as Cidades”.
Quando, afastado, segundo a visão ordinária do tempo, desta aventura dúbia, empreender falar de Roos, estarei repetindo, em certa medida, os nossos diálogos insuficientes. Darei sem esforço os traços próprios de Roos que surgem em outras mulheres: o sorriso fácil e a tendência a assumir sem transição uma atitude pensativa. (Aflige-a alguma lembrança pesada e indesejável.) Poderei, entretanto, descrever as cidades que flutuam no seu corpo como refletidas em mil pequenos olhos transparentes? Como dizer que penetro nesses olhos _ olhos ou dimensões _ e constato que as cidades, aí, são ao mesmo tempo reflexos de cidades reais e também cidades reais? Inumeráveis, íntegras, eis as cidades de Roos, erigidas nos ombros, nos joelhos, no rosto. Conheço, invasor, as suas ruas, seus edifícios desertos, seus veículos vazios, suas árvores, pássaros, insetos, flores e animais (nenhum ser humano), e os rios sob pontes frágeis ou magnificentes. Haia, Roma, Estrasburgo, Reims, Granada, Hamburgo. Sim, falar de tudo isso será refazer em outra direção, com idêntico malogro, os meus limitados diálogos com Roos.
Fonte: Osman.Lins.nom.br