O anelo, de Goethe, tradução de Manuel Bandeira

30 de junho de 2011 0 Por Gilberto Araujo
O beijo, Gustave Klimt

Só aos lábios o reveles,
Pois o vulgo zomba logo:
Quero louvar o vivente
Que aspira a morte no fogo.

Na noite em que te geraram,
Na noite que geraste, sentiste,
Se calma a luz que alumiava,
Um desconforto bem triste.

Não sofres ficar nas trevas
Onde a sombra se condensa.
E te fascinas o desejo
De comunhão mais intensa.

Não te detem as distâncias,
Ó mariposa! e nas tardes,
Á vida de luz e chama,
Voas para a luz em que ardes.

“Morre e transmuda-te:” enquanto
Não cumpres esse destino,
És sobre a terra sombria
Qual sombrio peregrino.

Como vem da cana o sumo
Que os paladares adoça,
Flua assim da minha pena
Flua o amor o quanto possa.