As eternas Teresas dos grandes poetas: Álvares de Azevedo

4 de julho de 2011 0 Por Gilberto Araujo
Mulher sentada, George Seurat, 1882-83

Teresa, por Álvares de Azevedo

Je lsayme tant que je nsose lsaymer.
Clément Marot

Quando junto de mim Teresa dorme,
Escuto o seio dela docemente:
Exalam-se dali notas aéreas,
Não sei quê de amoroso e de inocente!

Coração virginal é um alaúde
Que dorme no silêncio e no retiro…
Basta o roçar das mãos do terno amante,
Para exalar suavíssimo suspiro!

Nas almas em botão, nesse crepúsculo
Que da infante e da flor abre a corola,
Murmuram leve os trêmulos sentidos,
Como ao sopro do vento uma viola.


Diz amor! essa voz da lira interna,
É suspiro de flor que o vento aagita,
Vagos desejos, ânsia de ternura,
Uma brisa de aurora que palpita.
Como dorme inocente esta criança!

Qual flor que abriu de noite o níveo seio,
E se entrega da aragem aos amores,
Nos meus braços dormita sem receio.
O que eu adoro em ti é no teu rosto
O angélico perfume da pureza;

São teus quinze anos numa fronte santa
O que eu adoro em ti, minha Teresa!
São os louros anéis de teus cabelos,
O esmero da cintura pequenina,

Da face a rosa viva, e de teus olhos
A safira que a alma te ilumina!
É tua forma aérea e duvidosa
– Pudor d’infante e virginal enleio;

Corpo suave que nas roupas brancas
Revela apenas que desponta o seio.
Eu seii, mimosa, que tu és um anjo
E vives de sonhar, como as Ondinas,

E és triste como a rola, e quando dormes
Do peito exalas músicas divina!
Ah! perdoa este beijo! eu te amo tanto!
Eu vivo de tua alma na fragrância…
Deixa abrir-te num beijo as flores d’alma,

Deixa-me respirar na tua infância!
Não acordes tão cedo! enquanto dormes
Eu posso dar-te beijos em segredo…
Mas, quando nos teus olhos raia a vida,

Não ouso te fitar… eu tenho medo!
Enquanto dormes, eu te sonho amante,
Irmã de serafins, doce donzela;
Sou teu noivo… respiro em teus cabelos

E teu seio venturas me revela…
Deliro… junto a mim eu creio ouvir-te
O seio a suspirar, teu ai mais brando,
Pouso os lábios nos teus; no teu alento

Volta minha pureza suspirando!
Teu amor como o sol apura e nutre;
Exala fresquidão e doce brisa;
É uma gota do céu que aroma os lábios

E o peito regenera e suaviza.
Quanta inocência dorme ali com ela!
Anjo desta criança, me perdoa!
Estende em minha amante as asas brancas,
A infância no meu beijo abandonou-a!

Leia também:
O adeus de Teresa, de Castro Alves
Teresa de, Manuel Bandeira