O trem de todos

2 de maio de 2012 0 Por Gilberto Araujo
O trem de
todos
o trem de
todo dia
das
primeiras horas
dos que caem
na via
do aperto
que só piora
dos atrasos
de sempre
dos
marreteiros que vendem
dos que vão
em pé
dos que
marretam  a fé
dos que
conseguem lugar
dos que
empurram para entrar
dos que
sentam no chão
o trem que
não tem ventilação
o trem
o trem
o trem dos
que são arremessados quando abrem as portas
dos que vão
pensando na volta
das
histórias que temos que ouvir
dos que
encontram um ombro pra dormir
dos que dão
o lugar
dos que
pedem o que comer, o que comprar
dos joãos,
dos josés, das marias
dos
seguranças à paisana que tomam mercadorias
dos que
vendem bilhete único
dos que
pegam o primeiro
dos que
perdem o último
o trem do
cheiro das pastilhas de freio
o trem
o trem
o trem dos
que descem em estações históricas
dos que
partem de estações eternamente provisórias
dos que
puxam conversa
dos que
jogam o lixo pela janela
dos que
sentam nos bancos reservados
dos que
seguram a porta para os atrasados
dos que
compartilham seu gosto musical
o trem dos
que passam mal
o trem
o trem
o trem dos
que estudam
dos que
varrem a sujeira do chão
dos que vão
lendo
o trem que
sempre vai lento
o trem
o trem,
o trem
porque quem
vai no trem
tem sempre
um pouco de trem
nos olhos,
nos ossos,
no suor,

nas almas.