Prelúdio – O Jaraguá é Guarani
31 de julho de 2014As aldeias Guarani Mbya Tekoa Pyau e Tekoa Itu, estão localizadas no bairro do Jaraguá/SP, há quase 60 anos, nas menores terras tradicionais indígenas do Brasil, com apenas 1,7 hectare de terra, uma área equivalente a menos de dois campos de futebol.
Atravessados por duas estradas, uma delas significativamente com o nome de Rodovia dos Bandeirantes, os Guarani lutam diariamente para poderem manter vivas suas tradições, sem serem engolidos pela cultura embranquecedora, e viverem dignamente na cidade mais rica do país.
Ainda que já reconhecida pela FUNAI, as mais de 125 famílias que ali vivem, ainda estão ameaçados de perderem suas terras, por um pedido de reintegração de posse, cujo os autores da ação nunca residiram naquele território. O pedido encontra-se temporariamente suspenso pela Justiça Federal, mas para evitar mais esta atrocidade, os Guarani realizaram um grande ato na última sexta-feira, dia 25, em que levaram seus xondaros e mulheres para cantar e dançar em frente ao Tribunal Regional Federal (TRF), e protocolaram uma carta junto ao desenho de suas crianças, em que mostravam o vínculo e importância das Tekoas em suas vidas, para chamar atenção para a urgência da assinatura da portaria declaratória, para a demarcação das aldeias.
Além de garantir a permanência desse povo em suas terras tradicionais, a demarcação permitiria o aumento do local para 532 hectares de extensão, possibilitando a comunidade de utilizar a terra como necessitam para a realização de seus costumes, como a plantação e a caça.
É preciso entender o significado de uma tekoa, que não se reduz apenas ao lugar material e palpável, habitado por grupo, mas sim, o lugar do modo de SER guarani, entendido como um conjunto de preceitos para a vida, em harmonia com os regramentos herdados pelos antigos guaranis. Nem todo lugar habitado por populações guaranis é um tekoa – os acampamentos e áreas de ocupação recentes não são chamados de tekoa. Somente são considerados tekoa áreas onde foram construídas e são mantidas as as casas de reza da tradição guarani. A existência e manutenção de uma opy, indica, consequentemente, a existência de um ou mais karaí, os xamãs avôs guaranis, que possuem muita sabedoria, e cuidam de toda comunidade. E por isso não é possível ser guarani e seguir o modo de ser, sem viver em uma tekoa.
Acompanhe a luta indígena pelo facebook, na página Comissão Guarani Yvyrupa – CGY.
O Teatro Girandolá, desenvolveu um espetáculo a partir de pesquisas e convivência com os moradores das Tekoas Pyau e Itu, o “Ara Pyau – Liturgia Para O Povo Invisível”, para conhecer o processo de construção da peça e acompanhar a agenda de apresentações do espetáculo, acesse o site do grupo.