Miró por Joao Cabral de Melo Neto

31 de dezembro de 2012 0 Por Gilberto Araujo

O SIM CONTRA O SIM

[excertos]

Miró sentia a mão direita
demasiado sábia
e que de saber tanto
já não podia inventar nada.

Quis então que desaprendesse
o muito que aprendera,
a fim de reencontrar
a linha ainda fresca da esquerda.

Pois que ela não pôde,
ele pôs-se a desenhar com esta
até que, se operando,
no braço direito ele a enxerta.

A esquerda (se não se é canhoto)
é mão sem habilidade:
reaprende a cada linha,
cada instante, a recomeçar‑se.

Litografia que fez parte da exposição “Miró Escultor”

Editada em 1974 pela POLIGRAFA S.A. (Barcelona, Es).