Estorias | A origem do milho
28 de setembro de 2011
E o sofrimento foi tal que, certa vez, numa clareira do bosque, dois índios amigos, da tribo dos guaranis, resolveram recorrer ao poder de Nhandeyara, o grande espírito. Eles bem sabiam que o atendimento do seu pedido estava condicionado a um sacrifício. Mas que fazer? Preferiram arcar com tremendas responsabilidades a verem a sua tribo e seus parentes morrerem de inanição, a míngua de recursos.
Tomaram essa resolução e, a fim de esperar o que desejavam, se estenderam na relva esturricada. Veio a noite. Tudo caiu num pesado silêncio, pois já não havia vozes de seres vivos. De repente, a dois passos de distância, surgiu-lhe pela frente um enviado de Nhandeyara.
– Que desejais do grande espírito? – Perguntou.
– Pedimos nova espécie de alimento, para nutrir a nós mesmos e a nossas famílias, pois a caça, a pesca e as frutas parecem ter desaparecido da terra.
– Está bem – respondeu o emissário. Nhandeyara está disposto a atender ao vosso pedido. Mas para isso, deveis lutar comigo, até que o mais fraco perca a vida.
Os dois índios aceitaram o ajuste e se atiraram ao emissário do grande espírito. Durante algum tempo só se ouviu o arquejar dos lutadores, o baque dos corpos atirados ao chão, o crepitar da areia solta atirada sobre as ervas próximas. Dali a pouco, o mais fraco dos dois ergueu os braços, apertou a cabeça entre as mãos e rolou na clareira…
Estava morto. O amigo penalizado, enterrou-o nas proximidades do local.
Na primavera seguinte, como por encanto, na sepultura de Auaty (assim se chamava o índio) brotou um linda planta de grandes folhas verdes e douradas espigas. Em homenagem a esse índio sacrificado em benefício da tribo, os guaranis deram o nome de auaty, ao milho, seu novo alimento.
Fonte: Barbosa Lessa (org.). Estórias e lendas do Rio Grande do Sul.
*porungo: vaso de couro para líquidos