Depoimento | Meire Ramos
5 de fevereiro de 2012Meire Ramos
Ensaio | 01 de fevereiro de 2012História sobre o povo da TerraNo começo do mundo em que eu vivo, habitava a Terra um povo que de tudo sabia. Era preciso um dia para observação, no outro seguinte, já haviam aprendido tudo o que havia sido observado.
Poliglotas, falavam a língua dos ventos, a língua das plantas, a língua das águas, a língua de cada espécie de animal que vivia junto deles, a língua dos deuses, além da sua própria língua de origem. Por conta disso, sabiam tudo o que era necessário fazer.
Viviam felizes. Todas as tardes se juntavam para cantar e dançar. Todos entravam na roda, das crianças aos adultos, dos animais que rastejavam aos que voavam.
Num dia desses em que estavam reunidos, sentiram a terra tremer, e não era pela dança dos pés batendo no chão.
Saía de dentro do chão um ser que eles nunca haviam visto, todo vestido de fogo. Sua grande língua de fogo soltava palavras que eles não entendiam. Os filhos da Terra pararam para observar. Mas foram surpreendidos por dragões cuspindo em suas casas. Sem tempo para entender o que estava acontecendo, homens e mulheres corriam amedrontados.
E nunca acabavam de sair mais e mais desses seres estranhos, com armas de fogo, atacando a todos, destruindo o que viam pela frente.
Muitos acreditavam que era o fim desse mundo, mas não foi.
Muitos dos filhos da Terra foram esmagados, engolidos pelos dragões, outros desapareceram mata a dentro, e nunca mais foram vistos.
Os mais velhos pegaram suas crianças e tentaram se esconder, então, começaram a falar com os deuses, pedindo que os ajudassem a combater aquelas chamas. Voltaram a bater com seus pés na Terra-mãe, e nesse momento começou a cair do céu uma chuva, que foi engrossando para conter o fogaréu. Os filhos da Terra dançando, foram tomando a cor da chuva, transparentes para sumirem das vistas daqueles que os desejavam mal.
Foi então, que os filhos da Terra ficaram invisíveis aos olhos de quem tem ódio.
Agradecidos pela chuva que apagara o fogo, o povo invisível foi procurar onde morar. Ainda tinham medo, como eles não tinham ódio em seus olhos, ainda se viam, e nunca souberam que estavam transparentes.
Buscaram por um lugar distante daquele, e bem escondido. Andaram dias e dias, quando avistaram uma grande montanha, decidiram atravessá-la. Atrás da montanha parecia seguro. Subiram, subiram, subiram. Depois desceram, desceram, desceram, até o pé do outro lado da montanha.
Até hoje o povo invisível vive, em menor quantidade, mas, por incrível que pareça, vive.
Eles gostam quando chove, além de ser bom para tomar banho, matar a cede, e aguar as plantas, eles sabem que estão protegidos do fogo. Sentem-se mais próximos dos deuses.
Eles também sabem da nossa existência, sabem que temos fogo de nós, pois somos descendentes daqueles que vieram de dentro da terra, mas também sabem que somos seus parentes, pois nascemos da mesma Terra-mãe.
É possível conhecê-los. É possível vê-los, mas para isso é preciso ter olhos sem ódio. E subir a montanha, depois, descer a montanha.
E não é fácil, para conseguir subir, é preciso deixar muita coisa para trás, é desejável que deixe seus pertences e suba, vazio.
Lá nos recebem cantando, e antes de adentrarmos suas casas, o avô despeja água em nossas cabeças, para controlar o fogo que há em cada um de nós.
Quem chega até lá consegue enxergá-los, e eles tem a cor de filhos-da-Terra.
Essa é a história do povo que deu origem ao mundo em que vivo. Essa é a história do povo da Terra.
Poliglotas, falavam a língua dos ventos, a língua das plantas, a língua das águas, a língua de cada espécie de animal que vivia junto deles, a língua dos deuses, além da sua própria língua de origem. Por conta disso, sabiam tudo o que era necessário fazer.
Viviam felizes. Todas as tardes se juntavam para cantar e dançar. Todos entravam na roda, das crianças aos adultos, dos animais que rastejavam aos que voavam.
Num dia desses em que estavam reunidos, sentiram a terra tremer, e não era pela dança dos pés batendo no chão.
Saía de dentro do chão um ser que eles nunca haviam visto, todo vestido de fogo. Sua grande língua de fogo soltava palavras que eles não entendiam. Os filhos da Terra pararam para observar. Mas foram surpreendidos por dragões cuspindo em suas casas. Sem tempo para entender o que estava acontecendo, homens e mulheres corriam amedrontados.
E nunca acabavam de sair mais e mais desses seres estranhos, com armas de fogo, atacando a todos, destruindo o que viam pela frente.
Muitos acreditavam que era o fim desse mundo, mas não foi.
Muitos dos filhos da Terra foram esmagados, engolidos pelos dragões, outros desapareceram mata a dentro, e nunca mais foram vistos.
Os mais velhos pegaram suas crianças e tentaram se esconder, então, começaram a falar com os deuses, pedindo que os ajudassem a combater aquelas chamas. Voltaram a bater com seus pés na Terra-mãe, e nesse momento começou a cair do céu uma chuva, que foi engrossando para conter o fogaréu. Os filhos da Terra dançando, foram tomando a cor da chuva, transparentes para sumirem das vistas daqueles que os desejavam mal.
Foi então, que os filhos da Terra ficaram invisíveis aos olhos de quem tem ódio.
Agradecidos pela chuva que apagara o fogo, o povo invisível foi procurar onde morar. Ainda tinham medo, como eles não tinham ódio em seus olhos, ainda se viam, e nunca souberam que estavam transparentes.
Buscaram por um lugar distante daquele, e bem escondido. Andaram dias e dias, quando avistaram uma grande montanha, decidiram atravessá-la. Atrás da montanha parecia seguro. Subiram, subiram, subiram. Depois desceram, desceram, desceram, até o pé do outro lado da montanha.
Até hoje o povo invisível vive, em menor quantidade, mas, por incrível que pareça, vive.
Eles gostam quando chove, além de ser bom para tomar banho, matar a cede, e aguar as plantas, eles sabem que estão protegidos do fogo. Sentem-se mais próximos dos deuses.
Eles também sabem da nossa existência, sabem que temos fogo de nós, pois somos descendentes daqueles que vieram de dentro da terra, mas também sabem que somos seus parentes, pois nascemos da mesma Terra-mãe.
É possível conhecê-los. É possível vê-los, mas para isso é preciso ter olhos sem ódio. E subir a montanha, depois, descer a montanha.
E não é fácil, para conseguir subir, é preciso deixar muita coisa para trás, é desejável que deixe seus pertences e suba, vazio.
Lá nos recebem cantando, e antes de adentrarmos suas casas, o avô despeja água em nossas cabeças, para controlar o fogo que há em cada um de nós.
Quem chega até lá consegue enxergá-los, e eles tem a cor de filhos-da-Terra.
Essa é a história do povo que deu origem ao mundo em que vivo. Essa é a história do povo da Terra.