Dois candangos moratenses em Brasília – parte 3

Dois candangos moratenses em Brasília – parte 3

29 de julho de 2012 0 Por CONPOEMA



Enfim, trabalho! 

Mesa de abertura do 2º Encontro
Ibero-Americano de Cultura de Rede

 Ma non troppo… Segunda, dedicamos o tempo a ler o material indicado pelos organizadores do 2º Encontro Ibero-Americano de Cultura de Rede, resolver algumas pendências e ficamos aguardando ansiosamente a abertura do encontro que aconteceria à noite. Já no evento, após o cadastramento que tivemos que refazer, já que parece que as inscrições pela internet se perderam, pudemos ver basicamente a fala dos realizadores e correalizadores do evento sobre suas expectativas, como acreditavam que poderia se dar esta aproximação, proposta pelo encontro, e sobre os principais desafios que deveriam ser transpostos. As cerca de cinquenta pessoas que estavam presentes (segundo nosso olhômetro) puderam ouvir Guilherme Reis do Cena Contemporânea, Hamilton Pereira da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, Cláudia Leitão da Secretaria da Economia Criativa do MinC, Ivana de Siqueira da OEI – Organização dos Estados Ibero-Americanos, Hayde Lachino da Red Sudamericana de Danza e Carol Tokuyo do Fora do Eixo.


Hayde Lachino da Red Sudamericana
de Danza e Carol Tokuyo do Fora do Eixo

Foi bem bacana perceber que outros estavam tão animados e cheios de expectativas quanto nós, mas desde já duas coisas nos chamaram a atenção: primeiro, a fala de algumas pessoas (o Sr. Hamilton, por exemplo) sobre a necessidade de mantermos os pés no chão e não achar que a tarefa proposta pelo encontro seria algo simples de se resolver. A segunda coisa era a forte sensação de que estávamos deslocados ali, talvez por apenas nós e o cabeludo, que encontramos algumas vezes nos cantos do coffe-break, sermos aparentemente as únicas pessoas que não conheciam absolutamente ninguém no encontro; ou talvez pelo fato de que estávamos ali para nos infiltrarmos mesmo e levar, de volta pra casa, práticas, reflexões e modos de trabalho extraídos desse encontro nos próximos dias – e convenhamos que isso dá um tom meio de espionagem para nossa missão. Mas o mais provável é que fosse bobagem da nossa cabeça mesmo.

Com os pés no chão

Jorge Blandón falando no diálogo

Terça, de fato o primeiro dia de trabalho do encontro, as discussões e atividades seriam voltadas para a Gestão de redes, segundo a programação que recebemos. E logo pela manhã, uma mostra de algo que gradualmente aconteceria mais recorrentemente durante todos os dias do encontro: o atraso para começar as atividades. Aliás com exceção da “Apresentação de Projetos”, a grande maioria das atividades começaram com algum ou muito atraso e esse foi um dos lados negativos do evento, senão o único. No primeiro diálogo, “Cultura de rede: um espaço para pensar as plataformas de articulação continental”. Apesar de acharmos que o diálogo acabou escapando do foco e tomando ares muito teóricos (o que não é muito nossa cara), gostamos muito de algumas falas, em especial a de Jorge Blandón (Red Latinoamericana de Teatro en Comunidad – Plataforma Puente Cultura Viva Comunitaria / Colômbia) e Iara Pietricovsky (Inesc / Brasil). Pausa para um cafezinho. E é nesses momentos que você percebe como o ser humano é complicado mesmo: em meio a pessoas que insistiam em estacionar em frente a mesa e a batalha por um pão de queijo, conseguimos arranjar um tempinho para falar com uma ou outra pessoa e voltarmos em tempo para o início do segundo diálogo, que acabou começando tão atrasado quanto o primeiro.

Marco Antonio Leonor, Marcus Faustini
e Sérgio Mamberti no segundo diálogo

Na sequência, uma belíssima surpresa numa das falas mais acertadas, na nossa opinião, e com qual nos identificamos muitíssimo durante o diálogo sobre “Redes em rede: novas competências para a gestão e a colaboração”. Marcus Faustini da Agência de Redes para Juventude, deu uma sacudida na eterização das discussões ao chamar a atenção para a necessidade de incluir e considerar aqueles que normalmente não são organizados, mas que, ainda assim, podem ser parte importante de uma necessária expansão do setor cultural. Em especial, o exemplo das novas práticas nas comunidades carentes, que se quer são identificadas como expressões culturais, como o passinho do menor e o funk carioca. Outro ponto bacana foi a necessidade apontada por ele de um novo conceito que possa aglutinar e unir os diferentes atores sociais em volta da cultura, como aconteceu no passado com os conceitos de “liberdade” e “diversidade”. Isto e a esvaziada (por conta de certa desorganização do evento) e muito bacana palestra de Bernardo Gutierrez sobre “A cultura livre frente ao lobby da indústria cultural”, juntamente com os interessantes projetos apresentados, salvaram o dia.

Engrenando… mesmo no escuro

George Yudice falando no
primeiro diálogo do dia

Quarta certamente foi para nós o melhor dia. Intensas e proveitosas discussões, uma oficina maravilhosa, além de um momento inusitado e único num dia voltado à Dinâmica glocal e novos modelos de incidência. Primeiro o intenso debate sobre “Novo mundo, novos modos: aportes da política, empresa, economia e novas tecnologias para entender a dinâmica glocal atual”, com ótimas intervenções e falas dos palestrantes e plateia que quase estouraram todos os horários. Depois, na pausa do cafezinho, pudemos ter uma rápida conversa com o Marcus Faustini para quem pudemos retribuir a gentileza do livro cedido com um exemplar do Informativo Ôxe! e o programa do Oxandolá [In]Festa 2012.


Segundo encontro no dia

Depois, mais debates ricos e proveitosos sobre “Conhecimento em rede: novos meios e saberes para conectar”, com especial destaque a fala de Marcelo das Histórias da Ação Griô que chamava a atenção para a necessidade e importância da presenças de mais representantes da sabedoria ancestral de nosso país em discussões como essa e de como esses setores geralmente não são representados neste tipo de discussões, quando de repente… acabou a luz. “Isso sempre acontece quando a gente tem a oportunidade de falar…” – comentou o Marcelo, arrancando risos e aplausos, e continuou assim mesmo, no breu do auditório, mostrando que nem mesmo a obscuridade pode impedir a livre expressão griô. Mais um ponto para ancestralidade! Mais tarde, já com o retorno da energia elétrica, depois de indas e vindas pelo espaço do evento, caçando onde seria a atividade, pudemos participar da maravilhosa oficina do Roberto Guerra sobre “Sistematização de projetos culturais”, pra quem demos um exemplar do Informativo Ôxe! para ele levar para o Chile. Na saída, Paula Lima passando o som… Que chato, né? Parece que o evento agora ia engrenar.

Por fim, o fim

Diálogo “Fundo continental
para o trabalho em rede”

Quinta, por conta de nossa agenda, nosso último dia nas terras do Juscelino e, por conta de sabe-se lá o que, recorde de maior atraso para o início das atividades num dia dedicado a Economia criativa e novos meios de sustentabilidade. Logo de cara mais deliciosos e intensos debates acerca do “Fundo continental para o trabalho em rede: Mecanismos de fomento, oportunidades e desafios” onde gostamos muito das falas de Juan Espinoza (Hivos/Bolívia), Fernando Vicario (Consultores Culturales/Espanha) e da pesquisadora Eliane Costa (ex-Petrobrás) que voltaram a chamar para o chão firme as discussões do encontro mostrando as dificuldades e necessidade do caminho que deveríamos trilhar, a necessidade de construirmos nossa memória, de nos promovermos e as peculiaridades das políticas de patrocínio, especialmente no Brasil.

O ótimo Profº. Paulo Henrique de
Almeida durante o diálogo

Pausa para o café, mas agora estávamos preparados, com a recém aprendida técnica do copinho, em que enchemos ele numa única passada para não termos que entrar na guerra do pão de queijo outra vez. Na volta, outro intenso e estimulante debate, agora sobre “Negócios criativos e articulações para a sustentabilidade”, com um especial destaque para o Profº. Paulo Henrique de Almeida da UFBA que fez uma análise muito criteriosa sobre a história e dinâmica do mercado, cutucou o pessoal da esquerda e distribuiu bom humor com observações ao mesmo tempo espirituosas e ácidas. O debate rendeu bastante e só pudemos sair para almoçar perto das 16:00hs.


Isso, somado ao almoço, o tempo de chegada até o aeroporto, mais a complicação no trânsito causada pelo protesto de policiais civis no Eixo Monumental, impediram que a gente pudesse participar de outras atividades ou que pudéssemos acompanhar a avaliação final dos resultados do encontro. O que, noves fora, para nós, foi positiva, apesar dos problemas de organização e estrutural que irritou até alguns palestrantes. Correria no aeroporto, por conta da estupidez e falta de compromisso da atendente da TAM e assim nossa aventura terminou em um avião, a caminho de casa, saboreando uma cervejinha que ninguém é de ferro também, né.



Quer saber mais sobre o Encontro? Confira aqui: http://culturadered.com/

Como tudo começou:
Dois candangos moratenses em Brasília

A sequência:
Dois candangos moratenses em Brasília – parte 2

.