O mundo da leitura!

O mundo da leitura!

5 de outubro de 2012 0 Por CONPOEMA

Você costuma ler com frequência? Procura incentivar a leitura dos seus filhos e parentes?
Nosso colaborador Tiago Henrique Cardoso nos enviou um texto muito interessante, analisando como anda o incentivo a leitura no nosso país e formas mais adequadas de realmente instigar esse desejo nas pessoas. Leia o texto abaixo e pense bem, como diz Voltaire, “a leitura engrandece a alma”.

Uma
política para a leitura
Apesar
de vencer os péssimos índices de analfabetismo que avultavam até a
década passada (2000), o Brasil ainda não conseguiu alcançar o
nível de “país leitor”. De acordo com a pesquisa Retratos da
Leitura no Brasil, feita em março de 2012 pela Fundação Pró-livro,
o número de leitores que era de 95,6 milhões em 2007 caiu para 88,2
em 2011. A cerca desse problema, as políticas educacionais buscam
resoluções, como o Programa Apoio ao Saber da Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo, através de reformas para
infraestrutura nas entidades de ensino, equipando quase todas as
unidades escolares com bibliotecas e salas de leituras. Será que
essa iniciativa é suficiente para incutir no aluno o espírito da
leitura? Também, além disso, surge uma questão mais difícil: como
estimular o indivíduo que está fora dos meios educacionais a se
tornar um leitor?
Embora
haja o histórico problema da distribuição de renda no Brasil, não
são apenas os fatores econômicos contribuintes para o desinteresse
dos brasileiros com a leitura, uma vez que o Sudeste, sendo a região
mais rica do país, desceu 9% do número de seus leitores de 2007 a
2011, em contraste com o Nordeste, que aumentou seus leitores em 1%
neste mesmo período.
Evidentemente,
é necessário reconhecer que a praticidade do mundo global leva-nos
a adotar uma filosofia de vida mais fugaz e imediatista. Nesse
contexto, a prática de ler um jornal ou um livro concorre com o
hábito de assistir a um noticiário, jogar videogame, ou mexer em
aparelhos, como celulares, ipads, mp3, etc. Esta situação pode ser
ilustrada pela frase: “Para quê perder tanto tempo ao ler Dom
Casmurro, se posso assistir à série Capitu, baixada na internet?”.
Outro
grande ofensor no processo de incentivo à leitura é a concepção
dicotômica de opor as chamadas “leituras obrigatórias” (livros
de literatura clássica e ensaios acadêmicos) aos outros gêneros de
livros. Por isso, o programa estadual Apoio ao Saber, existente desde
2009, o qual fornece uma caixa com livros de literatura clássica
para cada aluno de escola pública do Estado de São Paulo, não está
dando certo, pois este projeto não está acompanhando a realidade
sociocultural do aluno. Essa metodologia, além de desprivilegiar os
demais seguimentos de leitura (as de autoajuda, os best-sellers, as
marginais, por exemplo), acarreta o distanciamento entre o individuo
e mundo das palavras. No lugar disso, a atividade da leitura deve
ocorrer de maneira gradativa e interdisciplinar; assim sendo, livros
comerciais, letras de música, cartas de amigos e até mesmo anedotas
cotidianas devem protagonizar o processo de apreensão da leitura
pelo aluno.
Não
é atoa que o preparo do professor, o qual normalmente é o primeiro
mediador na relação aluno-leitura, deve constituir-se na
aprendizagem da interpretação do texto em seus variados níveis
(político, social, poético, crítico). É indispensável que tanto
aluno como professor saibam que o ato de ler é muito mais que o mero
exercício de ditar palavras dispostas numa página. Através da
leitura, o indivíduo tem acesso a um mundo emaranhado de
informações, não importando condições temporais. Isso significa
que, ao ler, por exemplo, A República de Platão, o leitor atravessa
cerca de 2500 anos e compartilha a ideia que o filósofo grego teve
ao escrever o livro.
Mesmo
tendo a maior incumbência de estimular a leitura no aluno, o
professor de Língua Portuguesa e de Literatura não é o único
responsável pelo desempenho de o aluno saber o que está escrito ali
ou o que aquilo significa. Propriamente, os professores de Literatura
já lidam por lecionar os diversos gêneros textuais (poesia,
crônica, romance, novela, conto), as escolas literárias, a
utilização da ortografia, a produção de textos, etc. Dessa forma,
deixa-los sob o total encargo de ensinar a interpretação dos textos
não seria de nada prático. Para este problema, o mútuo
comprometimento de professores de qualquer disciplina se torna uma
grande ajuda, fazendo com que, no fim das contas, o aluno se
interesse pela leitura e pela matéria lecionada.
Não
devemos esquecer, no entanto, de que a prática de ler não deve se
restringir ao universo escolar, já que ela se vale como um
instrumento de humanização e de integração do indivíduo com
outros modos de ver o mundo. Esse processo garante a autonomia de
decisão do sujeito e elimina a alienação intelectual tão marcada
no nosso cenário nacional.
Uma
estratégia importante a ser tomada pelo sistema educacional seria
transferir a ênfase na infraestrutura das escolas para projetos que
realmente fomentassem a própria ação do leitor, como saraus,
oficinas de teatro e produção de textos, programas de biblioteca
itinerária, reunião de contação de histórias, etc. Tomamos de
exemplo os movimentos comunitários que têm por iniciativa trazer o
mundo da leitura às pessoas que, até então, o desconhecia. É o
caso do grupo Fiandeiras, composto por sete pessoas da comunidade
Real Parque, em São Paulo, que realiza ali o programa “Quando as
leituras e as artes sobem a viela…”, auxiliando moradores que são
assolados por problemas sociais de moradia a ampliar o seu universo
cultural. No Rio de Janeiro também se pode ouvir as palavras subindo
ao morro com o projeto “Ler é 10, Leia Favela”, o qual, através
de uma biblioteca itinerante que atravessa os complexos da Lapa e do
Alemão, leva às crianças a oportunidade da leitura e, sobretudo,
da diversão longe da violência. Enfim, tanto o grupo Fiandeiras
como o projeto “Ler é 10, Leia Favela”, que são iniciativas não
governamentais, são provas de que a promoção da leitura exige
muito mais do que investimentos em infraestrutura; ela exige, na
verdade, uma política cultural e educacional mais humana!
É
acompanhando a dinâmica social e valorizando o tesouro cultural
existente em cada nicho popular que uma política de leitura se torna
sólida o suficiente para alcançar as pessoas de todos os tipos,
crianças, idosos, ricos, pobres, deficientes visuais,
recém-alfabetizados… Afinal, considerando a famosa frase “Cada
sujeito é uma biblioteca”, então, melhor seja que nossa
biblioteca sempre se encontre cheia de estantes e de muitos livros,
os quais vão se multiplicando mais e mais, infinitamente.
Tiago
Henrique Cardoso
dia 24 de setembro de 2012