Quantos protestos Guarani-Kaiowá são necessários para uma mudança efetiva?
14 de novembro de 2012Sexta passada (09/11)
tive a oportunidade de participar de uma das poucas movimentações
que saíram do universo virtual das redes sociais e realmente se
concretizaram em ações reais atualmente no Brasil. O burburinho
causado nas redes sociais pelas declarações de algumas pessoas e,
em especial, da carta aberta da comunidade indígena Pyelito Kue
Mbarakay da etnia Guarani-Kaiowá de Iguatemi-MS gerou um efeito em
cadeia que levou centenas ou milhares (dependendo de com quem você
falar) às ruas da capital paulista e (segundo a organização do
movimento) em mais 50 cidades no Brasil e até fora dele. Se você
não faz ideia do que se trata, confere aqui.
espontaneamente e de forma descentralizada acabou sofrendo um pouco
com isso, tendo sido marcado diferentes horários no mesmo dia (e até
no sábado), o que deixou algumas pessoas confusas e, por outro lado
a condução/desenvolvimento da ação ficou meio capenga no início
e por pouco em alguns momentos não tivemos incidentes durante o
percurso. Nada que a iniciativa individual das pessoas da organização
não resolvesse. Os mais diferentes grupos faziam parte do evento e
foram bem o retrato de como essa mobilização se deu, colocando
sobre o mesmo guarda-chuva ativistas socioculturais, universitários,
defensores da liberação das drogas, punks, hipsters e até ufólogos
e teóricos cataclismicos.
legal foi ver o quanto de pessoas estão dispostas a ajudar (cerca de
12 mil pessoas eram esperadas e mais de uma tonelada de alimentos já
foi arrecadado, segundo a organização). Outra coisa que foi muito
legal foi ver diferentes organizações e iniciativas, especialmente
as ligadas a causa indígena, e diferentes etnias se unindo para
ajudar estes nossos irmãos que passam por um momento terrível
atualmente. Mas o mais positivo, certamente foi que durante toda a
movimentação, diferentes lideranças indígenas, especialmente dos
Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue Mbarakay, tiveram espaço e voz ativa
para falar sobre a realidade dos indígenas no Brasil e
principalmente da situação em Iguatemi.
que chovesse um pouco) em que pudemos ver os donos das florestas
fecharem as veias da selva de pedra e por algumas horas terem suas
vozes ecoando por entre os habitantes da capital, muitas vezes
apáticos às mazelas sofridas pelos outros. Descendo a Augusta isso
ficou bastante claro e das portas dos “clubes privês”, botecos
chiques e lojas de grife as pessoas olhavam de modo blazè, alguns
riam e faziam piadas, mas ainda assim não conseguiam esconder a sua
total e completa falta de sensibilidade, entendimento ou pura
humanidade para compreender o que acontecia ali. O dono de um boteco
até preferiu não me vender um refrigerante, por eu estar entre “os
baderneiros”. É, ainda há muito o que ser feito.
uma divergência aqui, outra ali; acabamos chegando emblematicamente
em um dos pontos que ainda sustentam seu nome indígena: Anhangabaú,
a “água do mau espírito” ou o “rio dos malefícios do diabo”.
E se não fosse a provável influência deste, a movimentação
poderia ter acabado de um modo muito mais bonito: em uma grande roda
coletiva, todos de mãos dadas. No entanto, terminou numa triste e
sem o menor sentido divergência sobre o hino nacional.
precisaremos de muitas manifestações como esta, talvez tanto para
que o branco aceite o indígena como ele é, mas também para que nós
possamos nos aceitar uns aos outros como somos: diferentes, mas muito
parecidos. Sigamos…
fotos da manifestação e neste link
(www.itupevanet.com.br) você pode ver a
cobertura do pessoal da ItupevaNet que esteva lá na manifestação
com a gente. Confere aí!