Língua Brasileira

Língua Brasileira

26 de janeiro de 2015 0 Por CONPOEMA

a língua à margem da norma, porém submersa em si mesma 


Problemáticas acerca da língua no Brasil


Já apareceu como possibilidade a denominação “língua nacional” e
língua brasileira” nos debates para as Constituições de 1824, 1890 e 1946, mas
não chegou a ser concretizada. A identidade da nossa língua fora defendida por
personalidades ilustres, como: José de Alencar, Said Ali, Macedo Soares, Mário
de Andrade, entre outros. Com destaque ao romancista Alencar, perceba nos
trechos a seguir, extraídos, respectivamente, dos pós-escritos de Diva e Sonhos D’Ouro que ele
estava certo de que não se pode
separar a língua dos seus usuários, de modo que os idiomas encarnam, acompanham
e refletem os destinos das nações a que servem, que transplantada para o
Brasil, a língua portuguesa tinha, irrefreavelmente, de diferençar-se da língua
praticada em Portugal:
A língua é a nacionalidade do pensamento
como a pátria é a nacionalidade do povo, não é obrigando-a a estacionar que hão
de manter e polir as qualidades que porventura ornem uma língua qualquer; mais
sim fazendo que acompanhe o progresso das idéias e se molde às novas tendências
do espírito humano (…). Desse modo não somente se vão substituindo aquelas
edições que, por antigas e desusadas, caducam, como se estimula o gosto
literário, variando a expressão que afinal de tanto repetida se tornaria monótona.
De resto, essa é a lei indeclinável de toda a concepção do espírito humano,
seja simples idéia, arte ou ciência: progredir sob pena de aniquilar-se
”.
O povo que chupa o caju, a manga, o
cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo
espírito do povo que sorve o figo, a pêra, o damasco e a nêspera?
No Brasil o padrão de língua
estabelecido é baseado nos textos literários lusitanos do século passado, eis
aí a problemática, com tentativa de resolução no chamado “Novo Acordo
Ortográfico”. Vale salientar que um dos principais fatores que motivou este
acordo fora nossa predominância lusofônica, pois representamos mais de 80% dos
indivíduos que falam o português, também a influencia do nosso falar sobre
outros países lusófonos, devido à expansão da indústria televisiva brasileira.
Nosso idioma, tecnicamente, pode
ser considerado uma variante do português e, historicamente, teve sua evolução
separada a partir do século XVI devido à miscigenação das línguas que já existiam
aqui com as que vieram de fora, e hoje apresenta diferenças
estruturais importantes, de ordem lexical, sintática, morfológica e fonética em
relação à língua colonizadora. Esta diferença gera incorrespondência entre
o padrão e a nossa fala, caracterizando-a como uma fala marginal (não oficial).
Portanto necessitamos dum padrão de língua baseado no que falamos aqui.
Quando
nos comunicamos através da fala pensamos simultaneamente, assim se dá o
encadeamento da linguagem, e pensamos na língua que nos utilizamos ­– em que
outra haveríamos de pensar? –, veja que quando aprendemos outro idioma e ao se
utilizar dele para se comunicar, pensamos conforme a sintaxe deste idioma.
Então que a problemática da língua no Brasil não somente gera um prejuízo à
comunicação, mas também ao pensamento de modo geral. Veja o que diz o
historiador Jean Baptiste Nardi sobre a língua
brasileira, em seu artigo “Cultura, Identidade e língua nacional no Brasil: uma
utopia?”: “Negada
a possibilidade de expressão pela língua falada na sociedade – por não
corresponder à língua de comunicação oficial – limita-se o pensamento. O discurso
permanece no nível do solilóquio, das relações familiares ou da vizinhança. A
sociedade perde assim a oportunidade de aprender sua mundividência, um pouco
dela mesma. Se a língua de comunicação, oficial e ensinada, é muito diferente
da língua falada, ela introduz confusões na expressão e, simultaneamente, no
pensamento: o indivíduo  não pode pensar
de maneira clara e lógica. Em conseqüência, a sociedade perde outra
oportunidade que é aumentar suas capacidades de conviver em harmonia com o meio
e a desenvolver-se. Em outras palavras, a língua que não permite a completa expressão
do pensamento não é representativa da sociedade da qual pertence; ela cria uma
situação contrária aos interesses da mesma sociedade
”.
Em suma, uma língua oficial que não leva em consideração as
transformações derivadas do uso, perde sua representatividade, sua capacidade
de coesão e sua finalidade que é ser o instrumento de expressão da sociedade. Como,
nessas condições, não acreditar na necessidade de reformas na língua oficial do
Brasil?