Língua Brasileira

Língua Brasileira

28 de março de 2015 0 Por CONPOEMA

O movimento “Simplificando
a Ortografia”



 


 

A Comissão de Educação do Senado Brasileiro criou
um Grupo de Trabalho Técnico para simplificar e aperfeiçoar as regras
ortográficas. A proposta de simplificação da ortografia tem gerado polêmica em diversos
meios e tem atraído seus opositores e seus defensores, e encontra-se em faze de
estudos.
Em 2013, este
grupo, em reunião com a Assembleia da República de Portugal, o projeto de
ortografia foi recebido como o mais adequado para ser aplicado em oito países
de língua portuguesa.

               A proposta vai
de encontro às problemáticas das regras ortográficas e suas aplicações,
principalmente no que se refere ao ensino da Língua Portuguesa. Além do fato de
haver um indefinido número de
palavras já existentes e não registradas e outras que são registradas com mais
de uma grafia; há regras ortográficas que não funcionam e situações das quais
não há regras.

             Sobre esta  ineficiência das regras ortográficas aponta  Ernani Pimentel, linguista e filólogo, presidente do Centro de Estudos Linguísticos da Língua
Portuguesa:

  1. Considerando a regra “Escreve-se x após
    a sílabas iniciais me e en: mexer, México, enxoval, enxuto”,
    aponte a grafia correta: a)    Enchova, mecha,
    mechar.       b) Enxova, mexa, mexer.


As alternativas a e b estão igualmente
corretas. Acabou-se de se ensinar uma regra que não funciona. Frustração para
aluno e professor.

  1. Considerando a regra “As palavras derivadas
    de línguas africanas escrevem-se com x”, como se escreve o nome de
    uma dança dos quicongos? a)    Chica.  b) Xica.


Chica, conforme os vocabulários
ortográficos do Brasil e de Portugal. Novamente se frustram alunos e mestres
porque a regra não vale.

  1. Com base na regra “Usa-se a letra j
    para grafar palavras de origem árabe, indígena ou africana: alforje,
    caçanje… ”, preencha com g ou j:ál…ebra,  al…ema,
    al…ibebe, al…ibeira, al…eroz, alfa…eme, alfan…e .


 Resposta: todas elas provêm do
árabe, mas, com exceção da última, todas se escrevem com g, desviando-se da
regra. Mais decepção para os alunos e menos respeito pela palavra do
professor. 

  1. Após estudar a seguinte regra: “Escreve-se a
    letra g nas terminações –agem, -igem, -ugem”, decida quais as
    alternativas corretas:a)    Viajem;    
    b) pajem;     c) lambujem;     d)
    penujem.


 Resposta: consulta a
dicionários atesta todas essas grafias como corretas, apontando, então, a
inutilidade da regra.

simplificandoaortografia.com 



A proposta sugestiona
derrubar a regra de que
palavras em que o s entre vogais teria som de z. Como Asa, asarão, Brasília,
base, paralisar, avisar, música, meses, deuses, pegajoso etc., seriam escritas
com z: aza, azarão, tranzoceânico, Brazília, baze, paralizar, avizar, múzica,
muzeu, mezes, deuzes, pegajozo etc., a exemplo de azeite, fazer, azedo, azul,
produzir, trazer etc., que já são escritas com z; Ademais, atualmente existem
palavras em que o s, mesmo não se encontrando entre vogais, têm o som de z:
transatlântico, transeunte, trânsito, transoceânico, transumano etc.


  • Da mesma forma,
    palavras escritas com x com som de z — êxito, exigente, exame, executar,
    existir, hesitar etc. — também seriam escritas com z: êzito, ezigente, ezame,
    ezecutar, ezistir, hesitar etc.;

  • O  ç (c cedilhado) seria extinto: assim, em lugar
    de açúcar, pescoço, moço etc. teríamos, então, asúcar, pescoso, moso etc. A
    exemplo da língua espanhola, não haveria necessidade de dobrar-se o s;


  • Em todas as palavras em que o c tiver o
    som de s, como em Ceará, cebola, cimento, ciúme, acima, Juraci etc., seria
    substituído por s.Teríamos, então, Seará, sebola, simento, siúme, asima,
    Jurasi, casino, baso, paseio, asim, impresora etc., a exemplo de Sergipe, sapo,
    São Paulo etc.;


  •  A
    ortografia já registra palavras com consoante muda, como b, c, d, g, p etc.:
    abdicar, absolver, acne, advogado, agnóstico, pneu etc. e, por analogia e
    extensão, palavras escritas com x com som de cs, como fixo, prolixo, ortodoxo
    etc., seriam escritas com  k+ s: fikso, prolikso, ortodokso etc.;


  • A letra J passe a se chamar jê e a
    representar esse som fricativo, palatal, sonoro. Mudar o nome facilita gravar o
    som da letra: jê+a= já: janela,  jê+ê=jê: jelo,  jê+i=ji: jiló, 
    jê+ô=jô: jogo, jê+u= ju: juta. E a letra G passe a se chamar guê, sendo
    a única a representar este som oclusivo, velar, sonoro. A mudança do nome põe
    em evidência o som da letra: gata, geixa (som de gueixa), gisado (som de
    guisado), gosto, gusa.


  • Eliminar o ch e deixar a letra x
    como única forma de representar esse fonema palatal.



          Segundo
    o professor Everardo Leitão, um dos idealizadores da proposta, não é escrever como se fala, sabe-se que isso seria
    impossível, dadas as variações de pronúncia nas diversas regiões do Brasil e
    nos demais países lusófonos. A proposta é de mudanças  na ortografia. Não se tocaria em
    concordância, regência, pontuação, flexão, estilística. A riqueza da língua
    como forma de expressão de nossa cultura e de nossa identidade não seria em
    nada alterada.

     




    Relação etimológica,
    segundo a proposta

     



               Se alguém não sabe a
    proveniência da palavra – se do árabe, de alguma língua indígena ou de origem
    africana – está impedido de saber usar x/ch, j/g, ç/ss/c. Porém mesmo supondo
    ser possível conhecer a origem de todas as palavras, nada garante saber escrevê-las,
    pois, como visto, a regra não funciona. A proposta consiste em desatrelar a
    ortografia da etimologia.


                 E como alfabetizar com base
    na origem das palavras? Não se nega a
    crise na educação, tampouco entende que reformar a ortografia seja a maior urgência
    nessa área. Mas o movimento acredita que podemos avançar com esta discução até a
    reforma ortográfica entrar em vigor (2016).


                 Leitão, no artigo: Ortografia
    e desarmamento lembra que escrevíos
    orthographia, phosphoro, abysmo, arquitecto, exhausto, annuncio,
    diphthongo e psalmo. A grafia mudou. Na época, houve xingamentos descontrolados
    e protestos raivosos. Alarmistas acharam que a língua portuguesa ia morrer. O
    professor arremata com a seguinte: “a
    etimologia teve sua desemportância decretada quando se deixou de ensinar origem
    e grafia dos radicais
    ”.




     

    Justificativa do movimento de simplificação



     


                 Segundo o etno-historiador e
    sociólogo, John Kraveirinya Mpfumo, moçambicano radicado em Lisboa, o idioma
    português passou, nos últimos anos, de quinto para o sétimo lugar entre os mais
    falados no mundo. A língua portuguesa está minguando na Europa e o seu excesso
    de regras refletindo de maneira negativa no Brasil. Enquanto isso,
    parlamentares de países lusófonos lutam para mudar o Novo Acordo Ortográfico
    antes do ano que vem.

                 Pimentel conta que, em
    pesquisa, de 40 gestores de uma multinacional europeia, que se mudariam para a
    América do Sul e teriam que aprender uma segunda língua, 32 escolheram o
    Espanhol e apenas 8, o Português, porque a ortografia espanhola é mais fácil
    que a nossa.

                 A falência do ensino
    ortográfico no Brasil é evidente e os próprios exames nacionais do ensino médio
    já dispensam esse conhecimento dos candidatos ao nível superior.O resultado é
    que nos vestibulares, na maior parte dos cursos universitários, há a presença
    de erros na escrita de tantos, apesar de ter sido gasto algo em torno de 400
    horas/aula de ortografia nas classes de ensino fundamental e médio.

                Em
    2012, segundo o IBGE, o Brasil tinha 13,2 milhões de analfabetos com mais de 15
    anos, ou 8,7% dessa população, com o agravante de esse contingente ter crescido
    em relação ao ano anterior.Também em 2012, conforme divulgado pelo Instituto
    Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, os analfabetos funcionais – aqueles
    que, embora sabendo escrever e ler um bilhete, um recado, não têm competência
    de escrita, leitura e cálculo necessária para interagir no trabalho, nas
    associações, na política etc. – chegam a ser em vastas regiões do Brasil mais
    de 30% da população e correspondem a 38% dos universitários brasileiros.

                O
    movimento de simplificação acredita que a proposta possa contribuir com a
    democratização e acesso à língua, principalmente ao que se refere a sua
    expressão escrita, ao reformular as regras ortográficas.