O que a premiação de nome Sabotage tem a nos dizer!

O que a premiação de nome Sabotage tem a nos dizer!

1 de abril de 2015 0 Por CONPOEMA
Texto e fotos: Tamires Santana

“O mesmo Estado que às vezes premia também mata; isto que é louco e contraditório

demais”, esta foi a mensagem que se sobressaiu do discurso feito por Bonga Mac ao

receber o Prêmio Sabotage na Câmara Municipal de São Paulo, na noite de sexta-feira

(20/03/15). Dentre as quatro categorias: Disk Jockey (DJ), Mestre de Cerimônia (MC),

Dançarino (Break Boy) e Grafiteiro, neste último, o artista, arte educador e empresário

foi destaque, ao lado de DJ La (in memoriam – DJ), Sabotage (in memoriam – MC), Cris

SNJ (DJ) e Carlos Step (Break).

A premiação foi criada pelo Projeto de Resolução nº 2/2005, com o objetivo de

valorizar e fomentar a cultura Hip Hop na cidade de São Paulo, principal pólo cultural

do país. Ao receber o prêmio, além de destacar a ironia do Estado, o artista defendeu

que “ninguém dentro do Hip Hop, do seu segmento, das suas organizações são

inimigas, somos parceiros. Vivemos em um momento ímpar no Brasil, um momento

medonho onde as pessoas querem até pedir de volta um dos piores pesadelos que o

Brasil já teve. Está na hora da gente se ligar e mostrar que podemos mais. A periferia

deve se levantar e apontar as coisas erradas”, afirmou.

Morador de Caieiras há mais de trinta anos, Bonga já realizou dezenas de trabalhos na

região. Dedicou a homenagem a cada painel apagado, destacando cada totalitarismo e

às vezes até ignorância de pessoas que acreditam que o outro não tem direito à

liberdade de expressão. “Ganhar um reconhecimento é de uma grande satisfação,

mas desde que esse venha pelo mérito à sua caminhada e dedicação ao próximo e a si,

pois não existe melhor, acredito que sou mais um. O ciclo não para”, explica.

É importante entender o valor da cultura Hip hop e a importância ao ser reconhecida

em uma das maiores potências políticas da América Latina. Da mesma forma que não

se deseja patentear ou institucionalizar o que por sua natureza se emerge e é

autêntico das ruas, é um passo a ser observado, pois qualifica e dá maior força e

representatividade a esta cultura, uma vez que dá aval para discuti-la enquanto

política pública, aproximando e destacando cada vez mais as reais necessidades da

população das infinitas propostas defendidas “por quem está atrás da mesa” – e que

nem sempre faz a mínima questão de lá sair.

Uma premiação (dentre outras ações) colabora, reconhece e dá visibilidade, além dos

cinco nomes citados, a todos aqueles que a cada dia tentam viver da sua arte, seus

pensamentos e, acima de tudo, sua ideologia, fazendo com que a cultura de rua ganhe

atenção e conquiste respeito.

Sem contar que com a popularização de nomes como Sabotage, além de reconhecer a

vida de quem “não era Pablo Escobar, mas era o cara e pá”, evidencia o quanto a

violência física, emocional e social ainda pulsa sobre a realidade da população

periférica e como priva, sobretudo, sua juventude a ir de encontro a um resultado

menos drástico, escancarada em estatísticas e nos noticiários de cada dia.