Carta aberta ao Senhor Claudio Mendel, Coordenador do Mapa Cultural Paulista,
da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo
Caro Claudio Mendel,
No último final de semana, nos dias 20 e 21 de setembro, nós, artistas teatrais da cidade de Francisco Morato, tivemos o prazer de receber em nossa cidade, a apresentação de duas peças teatrais finalistas da edição 2007-2008 do Mapa Cultural Paulista: “Cem Gramas de Dentes”, da Cia. Azul Celeste, e “Revolução na América do Sul”, da Cia. Teatro em Carne e Osso – espetáculos de qualidade e que merecem todo a nossa boa receptividade, principalmente por morarmos em um município onde há pouca oportunidade de assistir teatro.
A iniciativa em convidar os espetáculos e realizar a organização, para que tudo corresse da melhor maneira possível, foi do Grupo de Trabalho de Artes Cênicas, do Conselho de Cultura de Francisco Morato. Mais uma vez, este grupo assumiu uma responsabilidade que seria do Departamento Municipal de Cultura, arregaçou as mangas e partiu para a execução de uma atividade. Como de praxe, o citado Departamento, em quatro anos de atividade não realizou nenhuma atividade formativa ou de outra natureza qualquer, voltada para os realizadores teatrais da cidade. Tudo, absolutamente tudo o que aconteceu e acontece parte da iniciativa heróica dos próprios realizadores. Somente através desta iniciativa é que conseguimos trazer os dois espetáculos teatrais, as Oficinas Culturais por intermédio da ASSAOC, receber orientação pelo Projeto Ademar Guerra, além de promover três encontros de realizadores teatrais das cidades de Francisco Morato, Franco da Rocha e Cajamar.
Dizer que o Poder Público Municipal não participa em nada nestas ações não seria uma verdade. Participam, frente a muita insistência, providenciando o transporte e, no caso das peças recebidas, locando equipamento de som e luz – mas nem de longe podemos dizer que este Poder Público realiza parcerias com os realizadores teatrais e que de fato promove atividades formativas nesta cidade.
Somente alugar materiais e conseguir transporte para os realizadores nem de longe caracteriza uma parceria eficaz do Poder Público com os artistas da cidade. Pois foi assim: neste entendimento precário de parceria é que se deu a relação do Departamento de Cultura com o Grupo de Trabalho de Artes Cênicas na recepção destas duas peças de teatro. Analisem as condições em que as peças foram organizadas:
– Na contrapartida para receber os trabalhos, cabe ao município providenciar transporte, alimentação, hospedagem e infra-estrutura para o grupo se apresentar. O transporte, hospedagem e parte da alimentação foram pagos pela Secretaria de Estado da Cultura, pois o Departamento Municipal de Cultura fez pouco caso com os pedidos feitos anteriormente pelo Grupo de Trabalho de Artes Cênicas; apenas no último momento soubemos que os pedidos de alimentação e hospedagem simplesmente não haviam sido requisitados ao Departamento de Compras da Prefeitura Municipal. Isto gerou um imenso transtorno e somente porque a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo aceitou pagar as despesas necessárias, é que foi possível realizar as apresentações.
– Com muita antecedência, solicitamos a providência dos equipamentos de luz e som necessários. A princípio, o Departamento de Cultura nos informou que seria uma empresa responsável pela locação; depois, na última semana, fomos informados que seria outra empresa – que aliás ofereceu um péssimo serviço e equipamentos de má qualidade. O próprio responsável pelos equipamentos informou que os mesmos estavam sendo sublocados, ou seja, a empresa contratada não possuía os equipamentos e precisou buscar de outra empresa. Soubemos também que os equipamentos foram alugados por preços exorbitantes (R$7.800,00 para locação de luz e som, utilizados nos dois dias de apresentação). Vale ressaltar que o Departamento de Cultura não possui equipamentos de luz e som, sempre alegando falta de verba para aquisição dos mesmos, mas, absurdamente, possui verba para pagamento de altos aluguéis de materiais.
– Durante as apresentações não recebemos sequer a visita de algum representante do Departamento de Cultura, nem mesmo para assistir as apresentações.
Vale ressaltar que nas ações realizadas pelo Conselho de Cultura (Oficinas Culturais, Encontros de Realizadores Teatrais), assim como nas atividades de muitos outros artistas da cidade, dentre eles uma Orquestra e grupos de teatro, também não existe a participação de NENHUM representante do Departamento Municipal de Cultura! Todo este descaso para com esta atividade de grande importância para a comunidade (a realização de duas apresentações teatrais) demonstra o quanto este Departamento de Cultura não se interessa pela realidade cultural do município. Como um Departamento de Cultura, que sequer prestigia as apresentações dos trabalhadores da arte, pode contribuir para o desenvolvimento cultural de uma cidade? Por que um Departamento de Cultura preocupa-se exclusivamente com atividades voltadas para a grande massa (haja vista os “grandiosos eventos” voltados para a grande massa, com os quais os funcionários do Departamento de Cultura tanto se envolvem), e não se preocupam com outras formas de valorização da cultura local? Lamentável constatar que, absolutamente, não existe o necessário envolvimento para o desenvolvimento de políticas culturais que atendam e respondam às expectativas dos realizadores e da população local.
Não podemos e não vamos nos calar! Estamos dentro deste Conselho de Cultura nos mobilizando cada vez com mais força e determinação, e sabemos cada dia mais que este é o nosso trabalho: não assinar embaixo desta falta de respeito em relação a toda uma cidade, na desvalorização de toda sua potencialidade e criatividade. Já demonstramos, muitas vezes, que aqui existem artistas com vontade de trabalhar, e só isto já é motivo para exigirmos mais respeito deste Departamento Municipal de Cultura pela atividade teatral local. Se precisa ser pela boca de alguém, que seja pela nossa: que saia mais este grito que leva ao conhecimento da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo que nesta cidade, tida como cidade-dormitório, existem artistas que não estão dormindo. Não sei ao certo como o senhor poderia contribuir com nossa caminhada, mas alegra-nos saber que este órgão, que tem responsabilidade com a atividade cultural do Estado, passa a ter conhecimento da situação pela qual estamos passsando (e desde sempre)! Saber que a Cultura é uma das últimas prioridades de muitos governos não justifica em nada a ineficácia deste órgão municipal, que tem como uma de suas responsabilidades atuar para o desenvolvimento dos trabalhadores da área de arte da cidade.
Fica o convite para que o senhor possa vir a Francisco Morato, conhecer de perto a ação do Conselho de Cultura, assim como suas dificuldades para trabalhar.
Finalizamos esta carta inserindo o depoimento via e-mail de Jorge Vermelho, diretor da Cia. Azul Celeste, após ter se apresentado em Francisco Morato. Este depoimento, ao mesmo tempo que nos envergonha, nos chama para conquistar uma situação diferente. E, sinceramente, gostaríamos de ter a Secretaria do Estado da Cultura como parceira nesta árdua caminhada.
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OMISSÃO CULTURAL EM FRANCISCO MORATO
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2008 10:00
De:
“jorge vermelho”
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Para:
dubarto@yahoo.com.br, culturamorato@yahoo.com.br, cggomiero@gmail.com, “Fabia Pierangeli” , diogo@animorato.com.br, msalomao@gmail.com, mac.cenicas@gmail.com
Cc: prefeitura@franciscomorato.com.br
Olá a todos
Escrevo para denunciar a omissão do Governo Municipal de Francisco Morato/SP em relação ao tratamento dado à Companhia Azul Celeste, de São José do Rio Preto com o espetáculo “Cem gramas de dentes” que se apresentou na cidade de Francisco Morato por meio do Projeto Mapa Cultural Paulista, da Abaçai – Cultura e Arte, Organização ligada à Secretaria de Estado da Cultura.
Somente recebemos um apoio por parte de integrantes do Conselho Municipal de Cultura que não mediu esforços para que bravamente conseguíssemos cumprir nossa apresentação naquela cidade.
Deve ficar claro que o Município era parceiro nesta realização e recebeu o espetáculo na cidade sem ter que pagar cachê e deveria ter arcado com transporte, hospedagem, alimentação e equipamentos técnicos do grupo.
O transporte, o hotel e parte da alimentação teve que ser bancado pela Abaçaí em último instante pois caso contrário a apresentação seria cancelada.
A empresa contratada para iluminação e sonorização mostrou-se inapta a realizar qualquer tipo de trabalho voltado à arte pois tanto os equipamentos quanto o proprietário da referida empresa são desprezíveis.
No momento de resolução dos problemas técnicos, o proprietário da empresa CONTRATADA, que estava recebendo mujito bem pelo serviço, virou as costas e abandonou o grupo e os integrantes do Conselho de Cultura que ficaram falando sozinhos.
É uma pena que pessoas despreparadas continuem no poder e tratem a cultura com tanta insignificância.
É uma pena que a cidade de Francisco Morato não possa contar com o trabalho e a responsabilidade de pessoas realmente interessadas no bem comum
Agradecemos desde já a atenção,
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Grupo de Trabalho de Artes Cênicas
Conselho de Cultura de Francisco Morato