Doideira embaixo da cadeira malévola

31 de agosto de 2009 0 Por Gilberto Araujo

Daí que ninguém entendia o porquê que todos que sentavam naquela cadeira da sala de jantar, logo ficavam extremamente infelizes. Perderam a conta de situações estranhas que aconteceram. Certa vez foi no aniversário de Luíza, a menina da casa, que, na hora do parabéns pra você, sentou-se perto do bolo para receber a homenagem e instantaneamente fechou a cara sem querer papo nem risinho de ninguém.

Tratava-se de uma cadeira que absorvia a alegria de quem nela se sentasse.
Fazia isto por vingança – uma missão de vingança que levaria adiante por toda a sua existência cadeiral. Vingava-se com esta mágica de puxar para baixo de si o que dela fora roubado há um tempo atrás.

Nos tempos de árvore, vivia na Mata Atlântica. Era um belo Taranduatereiro, que ao ser cerrado, foi levado em partes iguais para uma madeireira da cidade. As partes da árvore ficaram todas muito esperançosas, sonhavam serem todas elas empregadas em um único móvel. Separarem-se seria um tormento, uma triste despedida sem deixar possibilidade para um reencontro familiar. Ficaram devaneando: seremos um conjunto de cadeiras… que nada, viraremos um belíssimo guarda-roupa, de modelo majestoso… E não é que elas acertaram no palpite do jogo de cadeiras!

Seis cadeiras lindíssimas foram feitas. Uma pena que sobrou uma torinha que não foi usada para o conjunto sentatório. Torinha apartada da família.

Virou esta torinha também uma cadeira, que foi colocada num outro conjunto. Mas é fato verdadeiro que ela nunca mais soube notícia da sua família biológica, que dizem ter sido vendida para uma família do interior de São Paulo.

Foi este o motivo pra ela se transformar nesta criatura vingadora, que tragava alegria e depositava debaixo de si mesma.

Mas se o escoadouro da cadeira malévola desembocava embaixo dela mesma, imaginemos quando por acaso, o cachorro da família ou alguma pessoa por algum motivo ia se esconder neste cantinho. Melhor nem contar como eram os surtos alucinantes de risadas, embriagues de alegria…Uma doideira só!


Criado por Fabia Pierangeli e Eduardo Bartolomeu
Recontado por Eduardo Bartolomeu