Girandolá no Hotel da Loucura

27 de janeiro de 2014 0 Por Meire Ramos

O processo de construção do nosso novo espetáculo tem se dado de maneira muito intensa, além da importante pesquisa teórica em livros como “Cidadelas da Ordem”, “Psiquiatria, loucura e arte: Fragmentos da História Brasileira”, ” Holocausto Brasileiro”, entre demais obras, muitas teses, matérias, e contos sobre o tema (alguns disponíveis aqui no nosso site), temos nos encontrado com pessoas e lugares que trabalham ou trabalharam com a loucura, médicos psiquiatras, funcionários do próprio Juquery, mas abrangendo mais do que a história deste Hospital, pesquisando a história de outros hospitais psiquiátricos do Brasil com muitas semelhanças, para entendermos o contexto e o pensamento da época em que ele foi criado, e também outras possibilidades de tratamento que se diferenciam e se chocam com o já desenvolvido no Juquery.

Neste mês, tiramos cinco dias para nos hospedarmos no Hotel e Spa da Loucura, no Instituto Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, um local que tenta se colocar na contra-mão do que é esperado no tratamento psiquiátrico.
Seus corredores com paredes coloridas e mensagens por toda parte, deixadas por moradores, funcionários, clientes e artistas que passaram por lá, nos levam até o encontro dos hóspedes, que nos recebem com muita festa, e a alegria do primeiro momento é mantida até o último instante da despedida.
O projeto idealizado pelo médico imunologista e psiquiatra cultural, Vitor Pordeus, é baseado fortemente no afeto, e a arte é mais uma das maneiras que eles utilizam para se comunicarem com os clientes psiquiátricos e deles se comunicarem com o mundo.

A proposta de receberem artistas, estudantes, médicos e demais interessados para integrarem um mesmo espaço, convivendo desde o café da manhã, em atividades culturais, e demais atividades diárias, faz com que todos ocupem um lugar comum, cada qual com a sua particularidade, mas deixando de lado as limitações impostas pela sociedade em geral, colocando-os também numa posição de pessoas autônomas.
Durante os cinco dias em que estivemos por lá pudemos experienciar oficinas de dança e construção de mandalas, cortejos e cirandas pelas ruas da cidade, assistir um espetáculo de teatro de rua, visitarmos o Museu do Inconsciente, e também o Museu Bispo do Rosário, além das muitas conversas riquíssimas que tivemos, em especial com o Edimar, Denise, Miriã, e é claro com o próprio Vitor, que fala apaixonadamente do trabalho desenvolvido no hotel.

Se fossemos descrever em detalhes o quanto foi significativo para nossa pesquisa e para cada um de nós poder ter passado por este espaço, poderíamos escrever folhas e folhas, mencionando momentos marcantes, olhares profundos, as músicas, e todo o envolvimento de cada um conosco, pois ficamos realmente tocados com a disposição e entrega das pessoas daquele lugar, mas deixamos em imagens o registro de nossa passagem pelo local que nos proporcionou pensarmos o quanto nos doamos uns aos outros, o quanto nos colocamos diante do mundo, e quanto estamos disponíveis e livres para criarmos, compartilharmos e sermos felizes.

Com muita admiração e carinho deixamos nosso muito obrigado por abrirem as portas para nós, e os nossos parabéns, pois vocês de fato fazem diferença no mundo não só daquelas pessoas, mas são exemplos a serem seguidos.

Veja por aqui mais fotos do cortejo e ciranda disponibilizadas por Vitor Pordeus.

Para conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido por Vitor Podeus, do Hotel e da UPAC (Universidade Popular de Artes e Ciência) acesse o blog.

Veja também os vídeos:

 Hotel da Loucura – Gênese

Clientes e Amigos

Clientes e Amigos, um filme de Luiz Santos e Douro Moura from falaluiz on Vimeo.