Depoimentos Aruê

Aruê depoimentos

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[tab title=”André Arruda”][accordions]
[accordion title=”Trilha sonora” load=”hide”]compoema_arue_depoimento_andreParticipar do processo criativo do espetáculo Aruê!, do Teatro Girandolá, neste momento de nossa vida artística é, para nós, de extrema importância, pois, possibilita-nos investigar uma vertente musical que vimos colocando em prática desde o Conto de todas as cores, nosso trabalho anterior.
Partindo de ritmos encontrados no universo da cultura afro-brasileira e explorando suas infinitas sonoridades melódicas e percussivas, vamos discutindo e buscando casar, à encenação, os sons e/ou silêncios necessários para a aclimatação do espetáculo.
Entre tantos outros motivos, fato de termos em nossas mãos um trabalho que, a exemplo da arte, não está estagnado, nos obrigando a estar em constante prontidão, nos fazendo refletir e encontrar sempre novas possibilidades, é o que mais me agrada e faz querer, cada vez mais, fazer parte dele.
É isso!!!
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[tab title=”Beto Bellinati”][accordions]
[accordion title=”Dramaturgia” load=”hide”]compoema_arue_beto_depoimentoEscrever para teatro não precisa ser um ato solitário. Talvez, nem deva. O fato é, que, ao ser convidado para participar do processo de criação de um espetáculo que pesquisaria o universo marginal das pombas giras, encontrei parceiros, artistas, atores, diretores e dramaturgos. Até então, nunca havia pisado num terreiro ou num puteiro; conheci-os durante a jornada. Não podia, portanto, escrever sobre algo que me era estranho. Poucas palavras saíram daqui de dentro.
Os atores – guerreiros maiores dessa empreitada – alimentaram-me e eu, tão somente, descrevi o que vi. Barba Azul desenhou-se assim. Mari e Su foram muito assim. Amapola foi só assim. Não sou Sófocles, Shakespeare, Brecht, Boal ou Beckett – e nem sei qual o grau de contribuição que eventuais parceiros poderiam ter nas obras desses autores.
Também não pretendo imitá-los em suas formas, posto que o meu tempo é este. Não escrevi Aruê!; colaborei sensivelmente com um grupo de amigos/colegas/companheiros/artistas, que gostariam de escrever uma história para inscrever-se na história. Sentasse eu em meu gabinete e não me disporia a escrever uma história sobre pombas giras. Fiz porque fui convocado por ânsias maiores – e, portanto, de maior interesse público – que as minhas próprias.
Tal foi a função do dramaturgo em Aruê!: disponibilizar algumas ferramentas para inteligências atuantes, a fim de construir uma obra que ele não é capaz – jamais, em tempo algum – de construir sozinho. O ser humano é limitado. O Teatro, talvez, não.[/accordion]
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[tab title=”Fabia Pierangeli”][accordions]
[accordion title=”5 de dezembro de 2008″ load=”hide”]compoema_arue_fabia_depoimento
Fica a capuxeta, ficam as vacas e bois, a sujeira, a terra, a vontade de correr, de ser livre, de poder voar. Eu queria voar… mas não consigo nem fazer uma capuxeta…

Coceira nas pernas por causa do mato… medo de bicho grande…

Quantas possibilidades num espaço que não é cotidiano… sair do cotidiano. Hoje eu realmente estive aqui, completamente presente, fazendo sem pensar, mais que na meditação. O vento no rosto, a terra pintando a pele, a cidade aos nossos pés, o alto, o contato!

Espaço, objetos, bois e vacas, gente, camisinhas… quantas histórias já aconteceram aqui?
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[accordion title=”18 de dezembro de 2008″ load=”hide”]
Giros, gargalhadas, dissimulação, mostrar-se no que não se é, querer, possuir, dominar, jogar com todas as armas, não importa como, desde que se atinja o alvo. Descobrir o alvo… focar… objetivar…

A atriz diante de muitas possibilidades.

As possibilidades… deliciosas!

A atriz com vontade de saborear mais, mais e mais.

Universos infinitos!

Sedução…

A atriz seduzida se prepara pro mergulho, mergulho interno, mergulho intenso, que de tão intenso quase acaba com todo o ar.

Falta de ar… às vezes o fôlego parece que está mais curto. Mergulha um pouquinho e volta, às vezes, tem mais ar.

Hoje, a medida que ia e voltava, a capacidade respiratória aumentava. O último mergulho foi o mais intenso. Foi o mais delicioso.

Quatro pessoas… muitas relações!

Relações que se cruzam e se transformam…[/accordion]
[accordion title=”22 de outubro de 2009″ load=”hide”]A menina putificada que se santifica.
A putificação justifica a santificação.
Menina puta santa.
A menina que revive seu caminho, que reencontra suas pedras, suas perdas.
Menina perdida…
Se perde dos seus sonhos.
É jogada na vida por quem lhe deu à vida.
Em seu caminho brotam pedras.
As pedras ferem seus pés e sangram sua alma. A menina que perde a vida e se encontra com outra menina, a menina dos contos de fadas que está prestes a ser devorada pelo lobo mau.
A menina que perdeu a vida mostra a vida pra outra menina.
Mostra toda sua dor, seu sangue e encoraja a outra menina a buscar caminhos diferentes.
A menina que perdeu a vida ilumina a vida da outra menina.
Elas se fortalecem, guerreiam e vencem.
Uma e outra, outra e uma.
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[accordion title=”16 de março de 2010″ load=”hide”]O quanto de cada personagem existe dentro de mim?
Como todos esses personagens me atravessam: a menina, a mulher, a puta, a que tenta se manter na linha, o Barba Azul, a vendedora de bucetas, o leiloador, a Pombagira.
Quantos Barbas Azuis atravessam nossos caminhos no decorrer da nossa existência?[/accordion]
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[tab title=”Gilberto Araújo”][accordions]
[accordion title=”A volta do Barba” load=”hide”]compoema_arue_gilberto_depoimentoFarrapos de homens em preto em branco batem em retirada. Deixam para trás rastros de pedras anunciadores de seu fracasso… recuam impotentes, inglórios. Desertam de seu império quimérico de pedra… de areia que o vento, capciosamente, desmoronou e vagam vagos de alma, vadios trilhando estradas, encruzilhadas. Vagam vagos de alma pagando putas por onde passa, por onde acha.
O homem esfarrapado regressa ainda amável, ainda homem, ainda senhor. De alma escassa, em frangalhos contando os cacos de seus soldados que restaram, empunhando espadas vazias, sem punhos… Regressa ao avesso, o homem de areia ainda amável, ainda homem, ainda senhor para os braços acolhedores de sua rainha, porém é tarde e seu abismo está em ruínas e a menina submissa se transformou.
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[accordion title=”Caminhos de Chapéus” load=”hide”]Formou-se um caminho sinuoso de chapéus, de todos os tamanhos, cores, formatos e caras. E como um ritual, o ator veste-se deles religiosamente para compor sua trajetória nestas histórias encruzilhadas.
É um pouco do pai que se reveste de pedra e vai abraçar a filha se esquivando da culpa que se debruça sobre a mãe silenciosa. É um pouco do Barba Azul que tem nas mãos os seus empregados e que seduz sua presa como viúva negra. E é um pouco do comprador de bucetas que desconhece os limites da razão.[/accordion]
[accordion title=”Múltiplas faces” load=”hide”]Meu estômago tem dentro de si uma britadeira em pleno sol de meio dia, furando, cavoucando tudo o que encontra pela frente. Meu corpo treme, estremece; sinto como se fosse cair pra fora de mim, escorregar pelas beiradas do meu suor… e um cavalo relincha alto, meu sangue esquenta e ele chega empinando as patas, e eu subo e monto no cavalo de mim mesmo, sinto-me cavalgando e sendo cavalgado com a fúria das rédeas de meus braços no ar. Os olhos ardem e fixam num ponto como que hipnotizado, corre, empaca, vira bruscamente pro lado, galopa, desvaira-se sem rumo e lá dentro, a britadeira continua furando, antropofágica me alimenta, me empurra e queima.
Cavalos, touros, lobos, homens, exus… correm a minha volta. São despertados, rompem a pele, o pêlo, o suor… riscam no chão caminhos, trilhos em minha carne…
É neste sentido, que esses animais vão entrando e fazendo parte da composição dos meus personagens , o seu lado mais animal, irracional… não sei… afloram no Barba Azul, está no íntimo do vendedor do bordel, na língua do comprador, no corpo do cara que compra sexo das prostitutas…
Esse dia foi muito forte a presença dessa corporeidade… quero ir mais a fundo nisso…[/accordion]
[accordion title=”A batalha da mulher selvagem” load=”hide”]Morre a mulher domesticada, o sonho encouraçado pintado de encantado e revela-se o abismo vestido de céu de um azul límpido e mágico. Desperta a mulher selvagem de suas correntes entrelaçadas, de suas incontáveis portas à sete chaves, renasce em luz: chama ardente de vida. Está pronta para a sua coroação.
O início de sua preparação é como um lamento: reúne forças em cada palavra proferida, se fortalece com o canto/oração que começa baixinho e vai crescendo, tomando forma na sua ancestralidade clamada. Seu canto coroado de inúmeras vozes, outrora inaudíveis, num coro majestoso, inunda o jardim do castelo e vai além dos altos muros que o cerca e invoca seu exército para a batalha.
E sua iniciação está se completando, a hora final se aproxima a galopes de cavalos selvagens. Em seu altar de oração, as velas queimam como se ressoassem tambores e suas chamas flamejam o canto de batalha: seu corpo imerso dança e dança e dança… dança a morte, dança a vida, dança a mulher selvagem…
Com sua espada cega e seus braços desnorteados rodopia enlouquecido a fúria do Barba Azul e aos poucos vai se esfarelando, se corroendo, um redemoinho de pó azul que vai se assentando no chão vermelho.[/accordion]
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[tab title=”Meire Ramos”][accordions]
[accordion title=”Trilha sonora” load=”hide”]compoema_arue_meire_depoimentoFazer parte deste processo tem sido muito interessante, e importante pra mim, tudo é muito novo, afinal, estou fazendo a intervenção sonora, mas nunca tinha tido essa relação com a música, a princípio fui convidada pra fazer a iluminação do espetáculo, e posteriormente para fazer a trilha sonora ao vivo. Aceitei, no desejo de estar mais próxima do grupo, no desejo de poder compartilhar os instantes dessa peça.
E a cada dia me sinto mais dentro, mais mergulhada nesse universo, que é denso, mas que também temos como desafio mostrar a leveza, e a beleza que existe. Também é muito gratificante estar num espetáculo onde se homenageia a mulher, a mulher que tantas vezes foi oprimida, machucada…cantar pras pombas giras me dá um grande prazer, como se eu cantasse a alegria em ser mulher, como se eu cantasse a liberdade.
Aruê![/accordion]
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[tab title=”Roseli Garcia”][accordions]
[accordion title=”18 de dezembro de 2008 – ensaio em Franco da Rocha, a noite” load=”hide”]compoema_arue_roseli_depoimentoCansaço, pensamento, pensamento, tempo, tempo…
Como é gostoso dançar, uma embriagues, as pernas desobedecem… prazer, desequilíbrio, busca, lembrança, dança, dança…
Incoerência! Isto não foi dito! Isto não foi pedido! Isto não foi feito! Descompasso.
Falta de lembrança, um não recordar.
Meu Deus! Já temos tantas informações! Qual delas é mesmo? Só preciso de uma palavra, uma ajuda para a memória. Ele não dá! Desse jeito fica difícil!
Agora sim!… ainda bem que temos os amigos…
Histórias que se cruzam, quando se dá conta, não precisou-se fazer nenhum esforço. Ela aconteceu naturalmente.
Tem coisas que não vejo como encaixar, parecem-me mundos distantes. Se em algum momento os fiz se cruzarem foi totalmente inconsciente, portanto, me indiquem, mostrem-me onde, em que momento.
Outros talvez agora comecem a se cruzar para mim, mas para os demais já vejo se cruzando.[/accordion]
[accordion title=”27 de agosto de 2009 – Amapola” load=”hide”]Desgosto!
Falta de perspectiva!
Desprezo pelo “humano”.
Morte às esperanças que nem tiveram tempo para aprender a lutar.
Descaso!
Desprazer – na vida, nos outros, em si.
Roubo!
Violento roubo dos sonhos, do sopro vital.
Falta…
De amor
De saudade
De esperança
De vida![/accordion]
[accordion title=”18 de março de 2010″ load=”hide”]Hoje, algumas coisas começam a clarear, é como se a tempestade de informações que caia sobre mim me cegasse.
Não que agora já saiba exatamente o que fazer ou não fazer, mas é que é bom ver as coisas tomarem corpo, forma, fica mais fácil enxergar os erros, as falhas, onde precisamos melhorar.
Sem contar que vendo as personagens ali, desfilando em nossa cara, na frente de nossos olhos, ou melhor, dentro de nós, pedindo, implorando, gritando, querendo ganhar espaço, individualidades, particularidades. São diferentes uns dos outros e querem se mostrar assim.
Acho que para ilustrar isto é como se eu pudesse fazer um desenho de mim mostrando tantas outras pessoas diferentes, colocando-se diante de mim após terem saído de mim mesma e, ficassem ali, em minha frente, pedindo, exigindo que suas diferentes características fossem dadas.[/accordion]
[accordion title=”23 de abril de 2010″ load=”hide”]Do azul do mar dos olhos, ao mar vermelho do sangue das veias.
Da frágil flor do amor
A força vingativa da dor
Corre menina mansa
A galopes fortes de esperança
Busca, reúne em teu seio o que lá está guardado, esquecido pelo tempo, mas que lá há de encontrar.
Estou em ti!
Faça teu parto
Me deixa aflorar
Me ponha na frente
E vamos lutar.
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[/accordions][/tab]
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